
Na première de Oeste Outra Vez em São Paulo, Antonio Pitanga tomou a palavra para exaltar o cinema brasileiro. Comparou o longa a Ainda Estou Aqui, Vitória e Malês, produções que abordam diferentes facetas do país. A princípio, a conexão pode parecer exagerada, mas há um elo: todos retratam aspectos fundamentais da identidade nacional.
O novo filme de Erico Rassi, que estreia nesta quinta-feira, 27, mergulha em um universo dominado por homens. Mulheres são ausentes ou secundárias, e essa escolha não é casual. Rassi questiona: o que resta quando a masculinidade impera sem contraponto?
A trama acompanha Totó (Angelo Antônio), dono de um bar que planeja matar o marido (Babu Santana) de sua ex-esposa. Para isso, contrata um pistoleiro aposentado, interpretado pelo sempre magnético Rodger Rogério. A violência permeia as relações, e os sentimentos são reprimidos. Esses homens não se permitem fragilidades, sequer aceitam ajuda médica. A independência que proclamam é ilusória: precisam das mulheres, mesmo que não admitam.
O ritmo do filme é cadenciado, sua atmosfera densa. Mas Oeste Outra Vez não celebra essa masculinidade. Pelo contrário, a expõe com ironia. Rassi encontra humor no absurdo dessas figuras. Totó, por exemplo, insiste em ignorar um problema físico evidente. Os assassinos seguem códigos vazios. A ausência de empatia os aprisiona em um ciclo sem saída.
As atuações acompanham essa leitura. Angelo Antônio traduz a rigidez de Totó com olhares e silêncios, enquanto Rodger Rogério rouba a cena com excentricidade calculada. Cada detalhe do filme contribui para essa desconstrução do mito do homem forte e autossuficiente.
A conexão com Ainda Estou Aqui não é apenas marqueteira. Assim como aquele filme usou uma casa no Rio para falar sobre a Ditadura, Rassi utiliza uma cidade do interior de Goiás para refletir sobre a masculinidade frágil. Oeste Outra Vez é um microcosmo do Brasil, onde os homens endurecem, mas não sobrevivem sem apoio. No fim, ao som de Nelson Ned, resta apenas o lamento: "Mas tudo passa, tudo passará".


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