Meu Amigo Robô tem um dos finais mais bonitos dos últimos tempos -- rivaliza bastante com outra conclusão bem bonita de um filme que estreia semana que vem, Vidas Passadas. Melhor: a última cena desta longa-metragem espanhol não é apenas um acerto solitário, de um filme que sabe apenas terminar. Pelo contrário. Esta inusitada animação acerta em (quase) tudo.
Dirigido por Pablo Berger (Abracadabra), o longa-metragem começa contando a história de um cachorro solitário que vive deprimido na grandiosidade da cidade grande. Se sente sozinho o tempo todo, de todas as formas possíveis. Até que ele resolve comprar um robô inteligente para ser sua companhia. E dá muito certo: a máquina é gentil, divertida e vive bem no dia a dia.
Até que um dia os dois vão para a praia, o robô se empolga mais do que deveria e, por algum motivo, deixa de se mexer. O cachorro, infelizmente, não consegue mover seu amigo, pesado e desajeitado. O jeito, então, é deixá-lo lá até descobrir como resolver o problema. Só que aí vem um grande complicador: a praia fecha para o inverno e o cachorro precisará esperar. Muito.
E é aí que vem a graça de Meu Amigo Robô, que fala sobre a vida desses dois personagens, que indiscutivelmente se amam, mas que precisam tocar suas vidas. O cachorro sai de casa, tenta encontrar outros passatempos. O robô, mesmo imobilizado, se diverte com a neve que cai sobre ele -- até que fica neve demais, claro -- ou com os passarinhos que por ali fazem brigada.
O roteiro de Berger, inspirado nos quadrinhos de Sara Varon, tem uma certa dificuldade em desenvolver essa história "do meio". Há alguns momentos interessantes, mas nada que se compare com o começo animado e ousado. Ainda assim, percebe-se como o longa-metragem transpira humanidade, mesmo falando sobre o relacionamento distante de um cão e um robô.
O filme fica um tanto quanto monótono até que, nos últimos 30 minutos, Berger coloca vida de volta à trama. As coisas realmente se desenvolvem, após os personagens andarem em círculos por um bom tempo. Como isso vai acabar? Como eles vão se reencontrar? Essas são perguntas que martelam o tempo todo na nossa cabeça e fazer Meu Amigo Robô ser ainda mais curioso.
No final, porém, Berger consegue superar ainda mais as expectativas. Como dito, Meu Amigo Robô não apenas termina bem, mas MUITO bem -- em maiúsculas mesmo. O cineasta foge de chavões do gênero e apresenta um final emocionante, mesmo minimalista, brincando com as emoções do público. Consigo ver crianças se divertindo enquanto os pais derramam lágrimas.
Melhor ainda é quando percebemos que o filme não é apenas aquela jornada superficial sobre dois amigos separados, e que faz muito sentido para os pequenos, mas traz alguns outros significados. Pode ser sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, já que o filme não se furta de trazer alguns símbolos sobre o tema. Ganha mais textura, relevância.
Também é sobre oportunidades perdidas, caminhos trilhados. O que seria da minha vida se tivesse feito tal coisa?, você já deve ter se perguntado. Meu Amigo Robô também é sobre isso: como determinadas escolhas não precisam ser sobre positividade e negatividade, mas apenas sobre escolhas distintas que podem apontar para a felicidade. É bonito demais. Vale assistir.
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