O longa-metragem Um Crime em Comum, que chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira, 14, tinha um potencial imenso. Dirigido por Francisco Márquez (de La larga noche de Francisco Sanctis), o filme acompanha a história de uma professora universitária que se recusa a abrir a porta, numa noite chuvosa, para o filho da empregada. Ele está desesperado, gritando.
No dia seguinte, o rapaz aparece morto. É a deixa para o início de um drama potente, extremamente complicado e intrincado, dessa mulher precisando lidar com o assassinato desse rapaz enquanto passa a enfrentar uma dor interna que não pode compartilhar com ninguém. Afinal, se ela tivesse aberto a porta pro rapaz, será que teria salvo a vida dele? Seria diferente?
Com uma atuação potente de Elisa Carricajo (de Viola), o grande acerto da primeira meia hora do filme está nas atuações. Carricajo dá profundidade ao drama de sua personagem, com especial atenção aos silêncios ensurdecedores desse drama íntimo. O aparente caminho por uma provocação às diferenças sociais parece ser interessante e extremamente rico para este longa.
Lembra, ainda que de longe, produções como Que Horas Ela Volta?, Três Verões e até mesmo o recente M8: Quando a Morte Socorre a Vida. A guerra entre classes é um problema que toma conta da América Latina como um todo, conversando com pessoas dos mais diversos países, e que enriqueceria ainda mais a trama de Um Crime em Comum, com potencial globalizado.
No entanto, logo após esse começo promissor, Márquez segue pelo pior caminho possível. Ao invés de apostar no drama social, o cineasta acaba apostando em uma mistura de drama, suspense e até mesmo terror. Perde-se o clima inicial e o filme, tristemente, acaba caindo em um ritmo modorrento, quase que insuportável, que não consegue avançar em quase nada.
No final, fica só a lembrança distante daquele começo promissor. Não que o filme seja realmente ruim ou algo assim. Nada disso. As atuações ainda valem a pena, assim como o bom questionamento do roteiro. A mistura de gêneros, a falta de foco e a ausência de desenvolvimento são um baque pro filme, que acaba ficando aquém de muitos filmes similares.
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