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Crítica: 'Acompanhante Perfeita' é bom filme, mas é preciso se atentar ao discurso

Foto do escritor: Matheus MansMatheus Mans

É interessante como a estratégia de marketing de Acompanhante Perfeita é um erro do começo ao fim. Desde o início, entregou uma reviravolta dos primeiros minutos de trama que não precisava -- dava para vender apenas como uma espécie de slasher ou coisa do tipo. Funcionou bem mal. Depois, um novo trailer entregou demais, incluindo uma reviravolta de meio de trama.


Tudo isso, infelizmente, joga o filme pra baixo. A melhor coisa é saber que o longa-metragem fala sobre um grupo de amigos que vai passar alguns dias em uma casa no campo, longe de tudo e de todos. Até que as coisas saem do controle quando Iris (Sophie Thatcher) mata um dos convidados. A partir daí, o diretor e roteirista estreante Drew Hancock mostra as suas ideias.


E é isso.


Papel da mulher


É, na superfície, um bom filme sobre sobrevivência com algumas boas alegorias sobre o papel da mulher. Iris está sempre à mercê de seu marido/namorado Josh (Jack Quaid) e é interessante como Hancock manipula o espectador para entender as sensações disso.


Os acertos também passam pelo elenco. Não apenas Thatcher (Herege) e Quaid (Pânico), que se aproximam de um espaço quase lunático dentro desse texto de controle de relacionamentos, mas há bons trabalhos dos quatro coadjuvantes que ajudam a compor esse cenário repleto de violência -- principalmente o divertido Harvey Guillén e uma misteriosa Megan Suri.


Até aí, tudo bem. É uma boa trama de sobrevivência, com reflexões interessantes sobre o papel da mulher e boas atuações. Ainda temos as reviravoltas para deixar tudo ainda mais divertido.


Tecnologia goela abaixo


A questão que precisa ser levantada, porém, está mais embaixo. Acompanhante Perfeita é mais um caso de filme de Hollywood que manipula o espectador para torcer por uma tecnologia, não pelos humanos. As pessoas são malvadas, enquanto tecnologias avançadas representam quase um ser puro -- é como se não houvesse maldade, apenas reação ao que os humanos fazem.


É um processo que já está acontecendo em Hollywood há tempos. E como já falamos sobre isso na crítica de Setembro 5, o cinema tem capacidade de manipular emoções e, sobretudo, embaralhar as opiniões das pessoas sobre tudo. Aos poucos, robôs, tecnologias e inteligência artificial vão se tornando os mocinhos. HAL 9000 ficou no passado com sua maldade exótica.


Nos tempos de hoje, robôs são vítimas. E nós, como espectadores, PRECISAMOS prestar atenção nas narrativas -- que estão acontecendo aos montes por aí, desde a humanização de robôs no belíssimo Robô Selvagem e até chegar no brilhante Ex_Machina. Ou seja: os filmes não perdem suas qualidades, mas entram numa seara que torna tudo mais estranho e complicado.


Acompanhante Perfeita não é um filme ruim. Pelo contrário. Há vitalidade nas ideias, uma boa forma de mostrar relacionamentos abusivos e boas atuações em um cenário que valoriza o exagero e tons mais lunáticos -- ótimo em tempos tão realistas e sombrios. Mas, como sempre, é bom consumir a história com moderação e pensar nos caminhos que pode estar trilhando.

 

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