Filhos da Dinamarca começa com uma cena forte. Um casal se despede e, segundos depois, uma bomba explode e mata a moça que, até momentos antes, sorria feliz. Já na cena seguinte, vê-se a Dinamarca -- país que sofreu o atentado -- alguns anos depois. É 2025 e aquela bomba, de alguma forma, mudou a maneira que o País enxerga o outro.
O estrangeiro, numa escalada da ultradireita radical, se torna persona non grata no País. E as coisas podem piorar ainda mais quando o político Martin Nordahl (Rasmus Bjerg) segue avançando rumo ao controle total do País. É aí que entram os protagonistas Zakaria (Mohammed Ismail) e Ali (Zaki Youssef). Como continuar viver assim no País?
Dirigido por Ulaa Salim, estreante em longas, o longa-metragem se debruça na forma como a Dinamarca abraça o reacionarismo -- muito parecido com o Brasil de hoje, aliás -- e põe medo nos imigrantes, muitas vezes fugidos de guerras. Assim, questões surgem naturalmente ao longo 120 minutos sobre xenofobia, política e esse futuro.
Mistura de Infiltrado na Klan com o Brasil de hoje, há bons momentos em Filhos da Dinamarca. Questões políticas de bastidores e, principalmente, uma reviravolta ao fim da primeira metade são os destaques do longa-metragem. A realidade da trama também chama a atenção. Será que é uma distopia ou imaginação à curta distância?
É assustador, assim, ver os desdobramentos dessa história, também escrita por Ulaa. Destaque, também, para a boa atuação de Zaki Youssef que, apesar do tom contido, chama a tenção e toma conta da tela quando precisa -- uma cena final é arrebatadora.
No entanto, os problemas também dividem a atenção. Primeiramente, há de se destacar que o filme é demasiadamente longo. Por mais que duas horas seja fichinha perto das megalomanias exageradas do cinema blockbuster de hoje em dia, há gordura aqui. Cenas sobrando, tramas alongadas demais. Vinte minutos a menos seria perfeito.
Além disso, parece que falta intensidade. O quadro pintado, por mais cruel e intenso que seja, não toma conta do filme. Há pontos baixos, de pouca evolução, e que tiram o público da projeção -- é aquela hora que alguém na sala de cinema checa o WhatsApp, dá um cochilada ou vai ao banheiro. Há um excesso desses momentos por aqui.
No final, quando o tom sobe, o ânimo do espectador acompanha. Mas não o bastante para deixar as lembranças ruins para trás. Um pouco mais de vitalidade e energia por parte de Ulaa Salim poderia fazer com que Filhos da Dinamarca se tornasse inesquecível. Dessa maneira que foi apresentado, é só interessante. E olhe lá! Olhe lá.
(*) Filme visto durante cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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