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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Fendas' traça paralelos entre vida, som e tempo


Catarina (Roberta Rangel) é uma pesquisadora no campo da física quântica. Seu trabalho, principalmente, é entender como o som se comporta e trafega no ar. Analisar os sons em seus mínimos detalhes. É, assim, um trabalho que se dedica a mergulhar no vazio, na pequenez das coisas. Nos silêncios e vazios, assim como nos sons e nas complexidades que isso traz.


A partir disso, o longa-metragem Fendas traça paralelos entre a vida de Catarina e o seu campo de estudo. Afinal, mais do que mergulhar no som e em suas "partículas", a protagonista está encontrando neste estudo uma maneira de entender melhor sua vida. De trafegar no tempo. De ir e voltar para trás, para a frente. Uma maneira de esquecer a temporalidade daqui, da vida.


Dirigido por Carlos Segundo, o filme chama a atenção, logo de cara, pela naturalidade com que Roberta encara sua personagem. Por mais complexo e entrincheirado que seja o assunto, os diálogos navegam com suavidade pela tela. Em momento algum os dilemas da personagem se tornam pouco naturais, desconfortáveis. É louvável, assim, o trabalho de Segundo e de Roberta.

Não é qualquer diretor, ou protagonista, que sabem trabalhar com temas assim complexos e que cheguem com sua mensagem ao espectador. Há um controle claro do que está sendo feito.


Além disso, é necessário destacar o bom trabalho de fotografia do estreante em longas Clóvis Cunha. Ele sabe como modular os sentimentos e as sensações a partir do trabalho de física quântica da personagem. Pode-se dizer, assim, que a boa mistura entre arte e ciência se dá pelo trabalho de Cunha. Se não fosse isso, algumas passagens se tornariam absolutamente vagas.


Ainda assim, apesar de todos esses pontos positivos, Fendas peca no roteiro. Escrito pelo próprio Segundo e por Michelle Ferret, o filme ameaça adentrar numa profundidade que nunca chega. A sensação é que uma leve reviravolta final, que revela alguns dos sentimentos da protagonista, deveria ser ponto de partida. Não é, afinal, uma grande surpresa e traz mudanças.


Um pouco mais de humanidade e sentimento, dentro dessa trama que já conseguiu a proeza de juntar ciência com arte, faria com que Fendas fosse um filme irresistível. No entanto, da maneira que ficou, apenas chama a atenção e lembra, de alguma forma, outras produções como Disforia e Mormaço. Personagens tristes e perdidas num tempo que não lhes pertence.

 
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