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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Fale com as Abelhas' é filme ultrapassado e sem vida


Foi-se o tempo em que histórias sobre romances LGBTs precisam ser, necessariamente, histórias de dor. Como ressaltei aqui no Esquina ao falar sobre o fraco Verão de 85, já vivemos em um momento em que essas pessoas merecem e precisam de histórias pra cima. Chega de finais trágicos, doloridos. É por isso que digo que Fale com as Abelhas é um filme ultrapassado.


Dirigido por Annabel Jankel (a mesma diretora de Super Mario Bros.), o longa-metragem acompanha duas mulheres (Anna Paquin e Holliday Grainger), nos anos 1950, que se amam, mas enfrentam um forte preconceito -- inclusive do filho da personagem de Grainger, que não entende o possível romance. Elas se encontram em suas próprias vidas tristes e solitárias.


De cara, ficam evidentes alguns acertos. Holliday Grainger (Cinderela) está bem em cena, enquanto Anna Paquin (X-Men) deve dividir opiniões com sua atuação um tanto quanto mecânica e fria. Além disso, há certa sinceridade e beleza no roteiro de Henrietta Ashworth e Jessica Ashworth (ambas da polêmica Killing Eve), assim como no interessante design de produção.

No entanto, os contras de Fale com as Abelhas gritam mais alto aqui. Falta humanidade e falta um cuidado maior na condução da trama, que ressoa clichês batidos de outros tempos. Por exemplo: as duas protagonistas são tratadas como deslocadas e estranhas pela vizinhança desde a primeira cena, causando estranheza. Parece que Jankel busca dor de qualquer maneira.


Além disso, o roteiro segue por um caminho mais fácil. Já apresenta as duas personagens completamente desconstruídas e mal vistas pela comunidade em que moram ao invés de dar desenvolvimento à situação. É tudo muito simples, muito encurtado. Lembra um pouco o gosto amargo de A Garota Dinamarquesa, do alto de sua falta de sensibilidade com o público LGBT.


Fale com as Abelhas, assim, é um filme que cheira a mofo. A coisa guardada. Talvez fizesse algum sucesso há uma década, ou duas, quando o filme seria considerado vanguardista ao tratar algumas questões. Mas hoje não mais. Essa estética trágica em filmes sobre romances homossexuais ficou pra trás. Precisa ficar pra trás. Abrir margens apenas nos reduz. E só.

 
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