Charlie Kaufman é um dos realizados mais interessantes do cinema. Com roteiros, ele marcou as pessoas com histórias como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Quero Ser John Malkovich. Na direção, causou estranheza com Anomalisa e Sinédoque, Nova York. Agora, ele volta a se mostrar um cineasta original com o triste Estou Pensando em Acabar com Tudo.
Adaptação de um livro homônimo de Ian Reid, o longa-metragem tem uma premissa simples: acompanhar a viagem de um casal (Jesse Plemons e Jessie Buckley) à casa dos pais do rapaz. No entanto, como já é tradicional nas histórias de Kaufman, a história acaba se desenvolvendo a partir de fatos estranhos, curiosos. Nada é muito linear, nada é muito óbvio, nada é simples.
O fato, porém, é que Estou Pensando em Acabar com Tudo é um filme brilhantemente realizado em vários aspectos. A começar pela fotografia e pela opção de usar uma tela reduzida para contar a história, fugindo da estética convencional e abraçando um tipo de cinema mais autoral e que diz ao que veio. É daqueles filmes que a imagem, de alguma forma, tem significado.
Quanto ao roteiro, poucos problemas. Ainda que tenha uma gordura aqui e outra ali, Kaufman não se entrega de vez ao didatismo em momento algum -- coisa que o livro faz mais próximo ao seu final. Ele abraça a estranheza da história e, com isso, faz um dos filmes mais perturbadores e complexos de 2020. Uma série de estratagemas faz o público pensar de formas erráticas.
Isso dá algum sabor ao longo e, principalmente, causa diversão ao olhar para a crítica se acotovelando para tentar entender o filme e fazer juízo de valor. Jornalistas por aí chegaram ao absurdo de dizer que riram com o longa-metragem -- que é, sem dúvidas, um dos mais tristes do ano. Falta uma compreensão melhor sobre o cinema, às vezes, e seu poder transformador.
Há, por fim, a cereja do bolo: a excelente atuação de todos os atores envolvidos. Plemons (A Noite do Jogo) lida com a complexidade de seu personagem. Buckley (As Loucuras de Rose) é a atriz ideal pro papel, misturando comportamentos. Guy Boyd (Foxcatcher) rouba a cena no final. Mas os grandes destaques são David Thewlis e Toni Collette estão excepcionais como os pais.
E, com isso, Estou Pensando em Acabar com Tudo é um dos filmes mais interessantes do ano. Ainda que não deva agradar grande parte do público por conta da dificuldade de acessar o âmago da sua mensagem, o longa-metragem acerta em cheio ao não se prender nesses pontos. Embarca numa viagem psicológica profunda e melancólica, como uma janela para outro mundo.
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