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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Entrevista com Deus' é filme de autoajuda repetitivo


Durante 2018, surgiram alguns exemplos de filmes gospel nos cinemas. No Brasil, Nada a Perder, a cinebiografia de Edir Macedo, foi o exemplo máximo e que se tornou campeão de bilheteria -- mesmo com salas vazias. Já o cinema internacional proporcionou algumas histórias interessantes, como o drama musical Eu Só Posso Imaginar e o beneficente O Que de Verdade Importa, que reverteu todos os ganhos de bilheteria para instituições de combate ao câncer. Filmes medianos, no geral, mas sem as histórias piegas que o subgênero parecia estar acostumado. Um avanço narrativo.

No entanto, chega nesta quinta-feira, 15, um filme gospel que nada tem de inspirador em termos de cinema. Versão audiovisual de um livro de autoajuda qualquer, Entrevista com Deus é um longa-metragem que tenta ser profundo e reflexivo, mas que não consegue sair do óbvio e do repetitivo. A história acompanha a vida de Paul (Brenton Thwaites), um jornalista que passa por problemas no casamento e que busca recompensar as frustrações com sucesso profissional. Dessa maneira, sem que o filme explique os meios, ele tem a oportunidade de entrevistar Deus (David Strathairn).

Conversas entre homens e Deus não é uma novidade. A Bíblia já diz que Moisés teve um rápido contato com a entidade divina. Dezenas e dezenas de livros de autoajuda se amontoam nas prateleiras com conversas francas com Ele, por exemplo. Nos cinemas, os exemplos também são variados. O péssimo filme A Cabana, por exemplo, põe um pai em luto pela morte da filha numa conversa franca com as várias faces do Ser Supremo. Jim Carrey também bateu um papo com Morgan Freeman, o eterno Deus do cinema, na comédia Todo Poderoso. Ou seja: está longe de ser uma novidade narrativa.

O que há de diferencial em Entrevista com Deus, então, é que o protagonista não procura o Ser Supremo como um psicólogo ou um conselheiro. A ideia geral é que Paul irá entrevistar Deus e, assim sendo, terá sinal verde para fazer a pergunta que quiser. É um ideia interessante a princípio. No entanto, a direção burocrática de Perry Lang (Homem de Guerra) e o roteiro óbvio de Ken Aguado (produtor do reality culinário The Italian American Cookie) acabam por derrubar qualquer possibilidade de história divertida, interessante ou reflexiva. São apenas frases de autoajuda jogadas à esmo.

É o mesmo problema de A Cabana. Muita frase pronta, feita pra emocionar sem pensar, e que não chega a lugar algum. Os atores ficam constrangidos em cena em alguns momentos. Principalmente David Strathairn (Boa Noite e Boa Sorte), que fica com a árdua responsabilidade de soltar as frases mais óbvias e decoradas do filme. Brenton Thwaites (Deuses do Egito), que precisa escolher melhor seus papéis, é o único que tem a possibilidade de expandir o seu personagem, mas os limites técnicos de sua atuação não permitem. O resto do elenco, quase invisível, está apenas funcional e operante.

Assim, o cerne de Entrevista com Deus fica comprometido. Não há um bom texto, as atuações são tímidas e nem a ambientação consegue ser esperta -- jogos de xadrez em um parque? Um teatro? Sério? O que se espera, então, é que pelo menos o entorno da trama principal seja inteligente para, talvez, assim levantar o ânimo da história. Mas nem isso. Paul está com problemas no trabalho de jornalista e os desafios que se apresentam são mais artificiais que uma nota de R$ 3. Os problemas no casamento são óbvios também. Seria mais interessante ter colocado um jornalista durão e que faz as perguntas certas pra Deus. Não esse rapaz que trata a questão como uma cruzada.

Ao final, Entrevista com Deus é um filme chato, cansativo e repetitivo. Quem leu qualquer livro de autoajuda de conversa com Deus, viu algum dos filmes mencionados ou se já pensou na possibilidade de conversar com o Todo Poderoso, vai sentir uma franca falta de material e conteúdo. Diálogos longos, explicativos demais, atores sem espaço pra criar, direção burocrática. Falta tudo em Entrevista com Deus, que deve agradar só as pessoas que estão em busca real de algumas palavras de conforto. Os que buscam uma história interessante para refletir e pensar, devem passar longe.

 
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