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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Entre Irmãs’ peca pelo excesso de grandiosidade

Atualizado: 11 de jan. de 2022


Realmente, difícil encontrar filmes épicos no Brasil. Não é fácil lembrar de alguma trama que tenha usado o folclore ou a tradição do País para tecer uma trama emocionante sobre a bravura nacional e que enalteça os aspectos mais nobres do brasileiro. O cineasta Breno Silveira (2 Filhos de Francisco), sem dúvidas, tentou fazer isso com Entre Irmãs, drama que chega aos cinemas em 12 de outubro com um elenco de peso e uma produção de primeira-linha. Mas não conseguiu.

O filme, inspirado no livro A Costureira e o Cangaceiro, da brasileira-americana Frances de Pontes Peebles, conta a história de Luzia (Nanda Costa) e Emília (a insossa Marjorie Estiano), irmãs e moradoras de uma pequenina cidade do sertão nordestino que buscam um frescor em suas vidas. As coisas mudam de rumo, então, quando Luzia é levada pelo temido cangaceiro Carcará (Júlio Machado) enquanto a irmã se apaixona e vai construir sua vida em Recife.

A partir daí, Breno Silveira tece uma teia de acontecimentos ao redor das duas irmãs, que vai se entrelaçando mesmo à distância. Num recurso narrativo piegas, ele faz com que os principais acontecimentos na vida de cada uma ganhe ecos na vida da outra, produzindo uma obra que trabalha com ciclos e repetições. Por exemplo: acontece um desastre na vida de uma e, ao mesmo tempo, a edição do filme mostra um acontecimento de mesma escala na vida da outra.

Apesar deste ser o recurso que mais incomoda ao longo do longa-metragem, são vários os erros causados pelo afã de Silveira em criar um épico brasileiro com o seu nome. A trilha do filme, por exemplo, é excessivamente barulhenta, o que prejudica o andamento da história. Em certos momentos, sequências de emoção são caladas por acordes ensurdecedores do estreante Gabriel Ferreira e que não permite total mergulho no emoção. É preciso aprender a usar o silêncio.

Outro problema encontrado no desespero de transformar o filme num épico está na duração de Entre Irmãs. Com mais de duas horas e meia, sobram sequências que poderiam ser limadas na edição. O ritmo, por vezes, é desgastante e a duração é exagerada. Na história do cinema, poucos filmes ousaram em ultrapassar a barreira das duas horas e meia e ainda menos filmes justificaram o excesso de tempo. Entre Irmãs, definitivamente, não está entre eles.

Há, porém, alguns acertos. A começar pelo elenco: apesar da insossa Marjorie Estiano ter a emoção de um estreante de Malhação, Nanda Costa e Júlio Machado conseguem segurar a força interpretativa do longa e contam com as melhores cenas da trama. Machado, aliás, está se provando como um dos melhores atores de sua geração após 1 Contra Todos. É preciso ficar de olho nele. Destaque também para Letícia Colin e Ângelo Antônio, que fazem participações especiais.

Outro ponto que não deixa o filme escoar pelo ralo é o roteiro de Patrícia Andrade. Apesar de excessos, as cenas soam naturais e há um bom paralelo entre a trama do filme e a vida de Maria Bonita -- personagem tão esquecida e pouco conhecida de nossa história. Além disso, há uma subtrama sobre homossexualidade que soa extremamente atual, mesmo numa história passada há trinta anos. Traz força para a história do filme, ainda que não seja a trama principal.

No final, Entre Irmãs falha terrivelmente em ser um épico nacional, mas consegue entregar um filme que fica um degrau acima de novelas da TV Globo. Talvez se Breno Silveira não tivesse insistido em deixar a trama tão grandiosa, o resultado seria bem mais positivo e o filme se enquadraria em uma das surpresas do ano. Mas com a trilha sonora excessiva e a duração tão longa, o filme só se torna mais um melodrama sertanejo na carreira deste irregular cineasta.

Enquanto isso, esperamos pelo verdadeiro épico brasileiro nas telonas dos cinemas. Por enquanto, ainda não deu.

BOM

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