O retrato da força sindical nos cinemas é quase tão antigo quanto o próprio movimento. A organização de sindicatos é algo que foi visto nos clássicos Tempos Modernos, Sindicato de Ladrões e A Greve, assim como na cinebiografia Lula: Filho do Brasil e no interessante drama inglês Orgulho e Esperança. Agora, o sindicalismo volta num dos filmes mais interessantes do ano: Em Guerra, do francês Stéphane Brizé.
A trama já começa indo direto ao ponto. Numa cidade no interior da França, uma fábrica está fechando as portas e demitindo 1,1 mil trabalhadores. O problema, além do desemprego que isso irá gerar, é que os funcionários tinham um acordo com diretores e acionistas de ceder benefícios trabalhistas e horas extras para melhorar a situação da empresa por cinco anos. Mas não adianta nada. Dois anos depois, o anúncio é feito.
É aí que os empregos se reúnem e, num movimento sindical, começam a pressionar os executivos e o governo para que a fábrica não seja fechada e os empregos sejam mantidos. É o início, assim, de uma luta aguerrida e liderada por Laurent (Vincent Lindon), um homem divorciado, prestes a se tornar avô, que irá fazer de tudo para que seus companheiros de chão de fábrica tenham o direito de manter os seus trabalhos.
Brizé, aqui, mantém a sua câmera quase documental. No caso de Em Guerra, isso faz com que a trama ganhe força. Ainda mais por conta da atuação memorável de Lindon (que repete a parceria com o cineasta de O Valor de um Homem), que passa toda a verdade que seu personagem exige. É uma confluência de acertos que impressiona e, em certa medida, arrepiam. A câmera, aqui, é uma mosca nos bastidores sindicais.
Há a sensação que sempre tem alguém na frente da câmera, quase que impedindo que as situações sejam filmados. Muitas vezes, aliás, há significados por trás disso.
O roteiro, escrito pelo próprio Brizé e por Olivier Gorce (também de O Valor de um Homem), é esperto em sua realização. As barreiras são palpáveis, reais e universais -- a história, apesar de se passar na França, poderia ser no Brasil. Há um problema de repetição que tira um pouco de força da produção. Com isso, o filme poderia ter uns 15 minutos a menos e deixaria tudo mais fluído e interessante. Mas, claro, ainda funciona.
Isso tudo, em conjunto, acaba gerando um filme forte, emocional. O final, arrebatador e que fez pessoas saírem aos soluços na cabine de imprensa, é impactante, marcante. Lembra o bom drama Dois Dias, Uma Noite, dos irmãos Dardenne, e que até acabou por colocar a protagonista Marion Cotillard na corrida pelo Oscar. São filmes igualmente crus, fortes, com uma interessante mensagem social por trás da intrincada trama.
A única coisa que destoa, de fato, é uma estranhíssima trilha sonora a base de guitarra elétrica, com forte influência do rock. Não faz muito sentido e, em dado momento, até tira o espectador da história. Difícil entender essa escolha de Brizé. Mas é aquilo: se a música de um filme é perceptível, ou é muito ruim ou muito boa. Infelizmente, neste caso, o compositor e músico Bertrand Blessing errou a mão nas suas escolhas. E muito.
Mas, ainda assim, Em Guerra se faz marcante. Difícil esquecer o bom trabalho de Vincent Lindon, de Brizé, dos coadjuvantes. Tudo trabalha em prol de uma tema que é urgente e traz reflexões interessantes sobre esse monstro chamado mercado. Filme essencial para o momento, no qual o mundo vê as grandes riquezas crescendo e os trabalhadores sofrendo cada vez mais. Que a luta sindical tenha cada vez mais espaço.
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