Bia (Andrea Beltrão) é uma mulher que, durante o parto de sua filha, tem complicações e entra em coma. Décadas depois, quando a menina já está na faculdade e o marido (Eduardo Moscovis) se casou com outra mulher, Bia acorda. É a partir desse ponto de ruptura em uma típica família brasileira de classe média que se debruça a história do longa-metragem nacional Ela e Eu.
Dirigido pelo sempre competente Gustavo Rosa de Moura (Canção da Volta), o filme é repleto de questionamentos sobre comportamento, tempo e memória, se aprofundando na importância da família – seja ela como for – e do carinho, trazendo uma dose de afeto inesperada dentro de um filme com assuntos tão sérios e complexos. É um filme que afaga, apesar de toda sua aspereza.
No elenco, quem rouba a cena é Beltrão (Hebe), que consegue trazer forte carga dramática à sua personagem mesmo deitada na cama e com poucos diálogos -- ela, aliás, também assina o roteiro ao lado de Gustavo. A cena em que ela começa a mexer os olhos, depois de tanto tempo em coma, é uma das cenas mais bonitas e singelas do cinema nacional nos últimos anos.
Além disso, Gustavo cria uma ambientação certeira, que faz com que o ambiente ao redor dos personagens, principalmente de Bia, se torne também um personagem. O quarto da personagem de Andréa Beltrão é extremamente acertada, fazendo com que toda sua história seja perceptível com um simples passeio de câmera pelas paredes. Dá profundidade ao filme.
Ela e Eu, porém, não escapa de ser aquele drama sobre classe média de sempre, que filmes como Que Horas Ela Volta?, Como Nossos Pais e afins já abordou. Dá a sensação de que o cinema brasileiro como um todo está circundando sempre os mesmos temas e tipos de personagens, sem muito espaço pra além disso. Poderia haver um pouco mais de inventividade.
Enfim: Ela e Eu traz complexidade narrativa ao falar sobre temas como memória, tempo, família e pertencimento, jogando fora concepções apressadas e abraçando toda a dificuldade em falar sobre um situação tão específica. Apesar de ficar encaixotado em um "mais do mesmo" que já vimos no cinema nacional, em um núcleo familiar banal, encontra espaço para emocionar.
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