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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Ela Disse' emociona ao tirar esqueletos do armário de Hollywood


Megan Twohey e Jodi Kantor. Você pode não conhecer esses dois nomes, mas com certeza sabe detalhes de uma investigação que elas começaram nos bastidores do The New York Times e terminaram revelando detalhes sobre os abusos cometidos pelo produtor Harvey Weinstein, ex-chefão da Miramax. Agora, essa história eclipsada pelos próprios absurdos de Weinstein ganha os holofotes com o filme Ela Disse, que estreia exclusivamente nos cinemas desta quinta, 8.


Dirigido por Maria Schrader (de O Homem Ideal e Nada Ortodoxa), o longa-metragem mergulha na vida de Twohey (Carey Mulligan) e Kantor (Zoe Kazan) exatamente no período em que elas estão investigando as primeiras denúncias que surgem à luz do dia sobre o mandachuva de Hollywood. É a essência do que já foi visto em Todos os Homens do Presidente e, claro, Spotlight, onde uma investigação de alguns jornalistas surge como potencial de balançar o mundo.


Em termos narrativos, Schrader encontra pouco espaço para inovar. Presa ao livro que originou toda a história, escrito pela própria dupla de jornalistas, ela fica naquela estrutura tradicional das histórias sobre jornalistas investigando: encontram fontes, tentam convencer essas pessoas em falar com a reportagem, encontram barreiras. É claro que não havia meios de fugir muito disso — afinal, é a história real, como é de fato. Mas fica a sensação de mesmice, repetição.


Schrader, porém, consegue escapar dessa estrutura óbvia ao trazer relances da vida pessoas dessas duas personagens. Enquanto elas estão na redação de jornal lutando para achar o fio da meada da história, suas casas vivem. Twohey enfrenta os dramas da primeira gravidez e da depressão pós-parto. Kantor, enquanto isso, já tem duas filhas, mas acaba tão absorvida pelas atividades no jornal e do caso Weinstein que se esquece de viver o seu dia a dia.

Para além disso, Ela Disse encontra sua força central na própria história que está contando, nos detalhes do caso Weinstein. É poderoso, e muito forte, saber os detalhes dessa história que abalou o mundo do cinema. Chega a arrepiar ver os momentos em que a história do ex-chefão vai sendo contada e o baralho de cartas do produtor começa, enfim, a desmoronar totalmente.


Isso alavanca o filme como um todo. Independente da estrutura banal, Ela Disse é essencialmente verdadeiro e potente enquanto retrato de uma estrutura de poder que se perpetua. Não é tão impactante quando A Assistente, por exemplo, quando vemos esse poder se abatendo em cima do lado mais fraco da corrente. Mas, ainda assim, é duro deixar a raiva e o rancor de lado conforme a história vai se revelando, ainda mais por se estender por décadas.


E apesar de ser o ponto principal do filme, e que leva a produção para outro nível, Ela Disse ainda apresenta dois problemas. O primeiro é a ausência de outros nomes fortes de Hollywood que davam sustentação para os crimes cometidos por Weinstein. O filme acertadamente se concentra em apenas um dos criminosos, mas poderia (e deveria) ter mostrado que esse tipo de crime não pode ser cometido sozinho. Outras pessoas estavam envolvidas nesse caso todo.


O pior, porém, é quando os créditos sobem na tela. Depois de tudo que o filme mostra, com mulheres lutando para transformar não só Hollywood como a sociedade como um todo, ‘Ela Disse’ exibe a assinatura de Brad Pitt como um dos produtores. O problema? Recentemente, ele foi acusado de agredir a ex-esposa Angelina Jolie. Logo vem na cabeça: Weinstein foi preso, mas a roda e os abusos continuam. E vem a sensação amarga de que nada vai parar isso.

 

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