Nos últimos anos, o cinema francês tem direcionado cada vez mais seu olhar para a "França que ninguém conhece". É o interior em crise, as crianças marginalizadas, os estrangeiros que buscam um espaço na sociedade. Agora, a Netflix traz ao mundo a boa dramédia Efeito Pigmaleão, que se debruça sobre o período inteiro de ensino numa escola da periferia de Paris.
Dirigido pela dupla Grand Corps Malade e Mehdi Idir (ambos de Pacientes), o longa-metragem parte da contratação da conselheira educacional Samia Zibra (Zita Hanrot) para mostrar os desafios, as preocupações, os problemas e as glórias de um ano letivo escolar. Principalmente com foco no aluno-problema Yanis (Liam Pierron) e no talentoso Issa (Moryfère Camara).
A partir disso, Efeito Pigmaleão -- que tem o título original bem mais apropriado de La Vie Scolaire -- mostra os efeitos que uma boa educação e bons conselhos vocacionais podem gerar na vida de um jovem que, por algum motivo, se encontra perdido. Há, aqui, um pouco de Paulo Freire, ao trazer a busca pelo ensino por meio de coisas que falam com a realidade de cada um.
É o cinema, a música, moda. Tudo que serve de arsenal para Samia enfrentar os problemas sociais e educacionais nesta escola da periferia é exibido. Um exemplo de atenção e educação.
Amplificando isso, o longa-metragem exclusivo da Netflix conta com boas atuações e uma direção calcada no real -- trazendo um efeito quase documental. Zita Hanrot (Fátima) transparece verdade e preocupação com sua personagem, tão imersa naquela cultura periférica. Destaque, também, para Perron. É um ator estreante, com zero experiência, mas brilhante.
A grande questão que circunda Efeito Pigmaleão é a quantidade de informações. Por mais que Samia e Yanis sejam os protagonistas, existem muitas outras histórias paralelas interessantíssimas. O já citado Issa, os outros inspetores, o professor de saco cheio, o que ainda tem interesses nos alunos, o professor de educação física surtado, a menina líder da classe.
Há uma vontade natural em conhecer cada um daqueles personagens, daquelas tramas. Não há tempo, em 111 minutos, se embrenhar nisso tudo. A sensação que fica é que muito mais poderia ter sido explorado e que, no final das contas, Efeito Pigmaleão renderia uma série muito interessante. Uma espécie de mistura inteligente entre Merlí com o filme francês Os Miseráveis.
De resto, é um filme delicioso -- e importante! -- de ser assistido. Tem força, tem mensagem, tem objetivos claros. Ainda que o sistema educacional francês não faça tanto sentido para pessoas de fora do país de Napoleão Bonaparte, dá para entender e, até mesmo, se identificar. Afinal, os dilemas dos jovens são os mesmos, em qualquer lugar. Só mudam de endereço.
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