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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Drácula' é série da Netflix que erra o tom e acerta no ridículo


A figura do Drácula, criação de Bram Stoker, parece saturada. Afinal, o conde dos vampiros já ganhou versões luxuosas sob a batuta de nomes como Christopher Lee e Gary Oldman. No entanto, a Netflix vai lá e tenta provar o contrário com a série limitada Drácula, produção com a BBC e dos mesmos show runners de Sherlock (Mark Gatiss) e Doctor Who (Steven Moffat).


A ideia da série, que chegou ao streaming na última semana, é fazer uma clara homenagem ao livro de Stoker, ao mesmo tempo que traz elementos de adaptações clássicas e a moderniza.


E Drácula, até certo ponto, parece uma extensão do universo conhecido na trama dos doutores viajantes no tempo. Afinal, a partir da tradicional história do Drácula, a série da Netflix busca subterfúgios para explicar o surgimento do vampiro e seu subsequente reinado. Algumas coisas funcionam, outras não. O que é tradicional do modus operandi de Moffat, como já visto em DW.


No entanto, o que faz a série funcionar em seus dois primeiros episódios -- de três, no total -- são duas coisas em específico: a ideia de modernizar alguns aspectos de Drácula e o elenco.


Vamos começar pelo último ponto. Claes Bang e Dolly Wells brilham como Drácula e Agatha, respectivamente. Ele consegue encarnar uma mistura de vampiros do cinema, indo desde trejeitos clássicos do personagem até obsessões que vimos no filme de Francis Ford Coppola. Além disso, ele consegue causar medo e nojo com cenas que misturam terror e gore na medida.


Já Wells, enquanto isso, é a personagem que de certa forma guia o personagem através da trama do Drácula. Suas idas e vindas, além de seu genuíno e misterioso interesse no personagem despertam bons sentimentos por parte do público, que deve se entusiasmar com as reviravoltas malucas que são a cara de Moffat e de Sherlock -- quem é fã vai se divertir.

Sobre o outro ponto, da modernidade em Drácula, é difícil falar sem dar spoilers. Mas algumas decisões são acertadíssimas -- e dão um frescor interessante para a trama. Enquanto isso, algumas outras opções narrativas acabam caindo no brega e na quebra de diálogo com o público. Afinal, não tem nada mais decepcionante do que uma reviravolta que não é encaixada.


Agora... O que faz Drácula cair no ridículo, fazendo com que todos os episódios se percam num riso de escárnio, é a sua conclusão. O terceiro capítulo desta série limitada beira o grotesco de tão pequeno e mal ajambrado que é. Difícil imaginar uma conclusão mais besta e ilógica -- deixa finais de saga terríveis, como Game of Thrones e Star Wars, parecendo brincadeira de criança.


A dúvida é: será que há espaço para arrumar isso em algum momento? Será que teremos uma continuação onde esses erros, claramente vindos da mão de Steven Moffat, serão apagados e redimidos? Difícil saber. O fato é que Drácula precisa, ainda, compreender a tênue linha que separa a originalidade criativa do absurdo, do tosco, do brega, do pastelão -- que onde caiu aqui.


Toda a ambientação criada em conjunto com o espectador, numa cristalização da confiança de que estavam mexendo com uma história difícil e de potencial, é quebrada em cacos difíceis de serem colados novamente. A sensação é que tudo de bom nos outros dois episódios se esvaiu. E há uma terrível possibilidade de que as coisas não se ajeitem novamente, tamanho o tombo.


No futuro, na mão de roteiristas mais competentes e de show runners que não tenham ideias megalomaníacas toscas, pode ser que Drácula ganhe espaço na cultura pop novamente. Do jeito que dá, há apenas riso e descrédito. Mas a preocupação é grande. Afinal, que produção aprova uma final como esse? Quem acha que está tudo bem? Difícil. E textos com spoilers em breve.

 
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