Fui assistir a Drácula: A Última Viagem do Deméter com uma empolgação inesperada. Afinal, não só gosto dessa passagem do livro de Bram Stoker, como também gosto do cineasta por trás da adaptação (o norueguês André Øvredal, de O Caçador de Troll) e de Stephen King, que elogiou publicamente a produção. Mas que decepção: o longa-metragem, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 24 de agosto, é um amontado de clichês que sequer dá medo na audiência.
Inspirado em um dos capítulos do livro Drácula, de Bram Stoker, Drácula: A Última Viagem do Deméter acompanha o trajeto de um navio (o tal Deméter do título) que sai da Romênia e parte em direção ao Reino Unido. No entanto, no meio do caminho, as coisas começam a ir mal: os animais aparecem mortos, uma jovem misteriosa surge do nada dentro do navio e, quando as coisas parecem que não ficariam mais estranhas, os tripulantes desaparecem sem rastros.
É, obviamente, um vampiro atacando na calada da noite, se alimentando aos poucos de sangue e ganhando força, forma e físico. Ainda que seja um filme geograficamente diferente de clássicos como Nosferatu e Drácula, de 1931, o personagem continua bem parecido. É inclemente e violento, se tornando um verdadeiro pesadelo na vida de suas vítimas – ou seria melhor chamar de presas, já que praticamente não possuem chance alguma de vida? É, enfim, um monstro.
A criação do monstro em Drácula: A Última Viagem de Deméter é criativa e original. Øvredal, que já tinha mostrado essa qualidade em todos seus filmes anteriores, sabe como transformar uma criatura em algo medonho e fascinante ao mesmo tempo. No entanto, logo voltamos para um problema já visto em outros de seus filmes: um roteiro ruim (desta vez escrito por Bragi F. Schut, de Escape Room, e Zak Olkewicz, de Trem-Bala) que não sabe como ir além.
O filme tem um bom monstro, personagens interessantes (apesar da obviedade dos tipos vividos por Corey Hawkins e Liam Cunningham) e um ambiente que flerta com o teatral, com a história retida em um espaço único, gerando o desespero de não ter como ou para onde escapar.
Só que as coisas terminam por aí. O roteiro arrisca que isso tudo é o bastante para manter o interesse do público – e, já aviso, não é. Ficamos sentados vendo passivamente os personagens morrendo pouco a pouco, sem clemência, e com absolutamente nada mais acontecendo, a não ser o desenvolvimento do vampiro. É a mesma coisa, uma atrás da outra, ad infinitum. Nós ficamos cansados e nem mesmo o visual salva. Fica chato. Øvredal, mesmo criativo e amando os monstros, não consegue salvar um roteiro ruim. Com esse texto, nem Del Toro conseguiria.
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