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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Dogman' marca retorno do estilo de Luc Besson após série de tropeços



Ainda que tenha filmes mais sóbrios como roteirista, o cineasta Luc Besson gosta de dirigir o ridículo. Já contou a história de uma garotinha fascinada por um assassino (O Profissional), a mulher com seu cérebro poderoso e que vira um pendrive (Lucy), as aberrações visuais de O Quinto Elemento. Agora, sobe mais um degrau no camp com Dogman, estreia nesta quinta, 4.


Dirigido e roteirizado por Besson, que faz seu primeiro filme após ser inocentado de uma acusação de estupro, Dogman conta a história de Douglas (Caleb Landry Jones), rapaz que nunca teve amigos e foi constantemente maltratado por seu pai e pelo irmão mais velho. A única companhia que encontrou foi a dos cachorros que seu pai criava e, depois, passaram a ser de propriedade do rapaz – que, vítima de violência, tem severas dificuldades de andar.


Nesse contexto, Besson segue por duas linhas de roteiro. De um lado, há o drama profundamente humano de Douglas. Afinal, ele é um rapaz absolutamente incompreendido. É cadeirante, é solitário, é drag queen. Ninguém nunca o compreendeu. De outro lado, Luc brinca com as consequências disso no mundo real – lembrando até um pouco a violência suja e urbana do brasileiro Mundo Cão. Douglas não apenas adestra seus animais. Ele consegue se comunicar com os cães. Pede um saco de farinha e o cachorro entrega na mão do protagonista.



É ridículo, é tosco, é brega. Lembra um filme da Sessão da Tarde qualquer com cachorros inteligentes e que, em última instância, até mesmo conseguem falar. Aqui, os cachorros de Douglas não articulam palavras, mas fazem o inacreditável. Um espectador desavisado pode achar que o filme está rindo da sua cara – e talvez Besson realmente esteja rindo da cara do público –, mas essa é a essência do cinema. Entre o drama e o ridículo. O brilhante e o brega.


Afinal, o francês gosta de examinar o absurdo do ser humano. Oras, quem acha que Busca Implacável, escrito por Besson, é um filme fincado na realidade? Assim como quase todos seus outros filmes. Besson analisa o mundo, pensa em extremos e, logo depois, mistura isso em um espetáculo colorido e inacreditável. Besson usa o cinema para esgarçar limites, por mais toscos que sejam, e se divertir com isso – explorando o que há de mais estranho em cada um de nós.


Dogman, a partir desse personagem que, por vezes, flerta com a personalidade do Coringa, analisa a relação dos homens com os cachorros. Sem nunca fazer julgamentos de seus personagens, cria uma ópera-bufa que escapa da chatice que é o cinema de hoje em dia. Não é um filme para todos, já que muitos podem se sentir ofendidos pela falta de seriedade na trama. Aqueles que conseguem embarcar na aventura, porém, vão encontrar um caldeirão de emoções típico de Besson, em seu filme mais inventivo desde Lucy, enfim, após tantos tropeços.


 

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