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Bárbara Zago

Crítica: 'Do Jeito que Elas Querem' usa clichês para empoderar terceira idade


Existe um certo prazer em ver filmes que, apesar de clichês, são capazes de trazer um alívio cômico, ao mesmo tempo em que tratam de um tema extremamente importante. E Book’s Club, que teve a infeliz tradução para Do Jeito Que Elas Querem, é um exemplo perfeito disso.

O longa-metragem, que conta com a direção do estreante Bill Holderman, retrata a duradoura amizade de quatro amigas muito bem sucedidas na vida, que mensalmente se reúnem para discutir um livro e beber vinho. As atrizes selecionadas para compor esse quarteto são de se admirar: Diane Keaton (Alguém Tem Que Ceder), Jane Fonda (A Sogra), Candice Bergen (Miss Simpatia) e Mary Steenburgen (Última Viagem a Vegas). Nem uma trama fraca consegue tirar o brilho destas mulheres.

Quando Vivian (Fonda) resolve dar outro rumo ao clube do livro e se afastar de obras intelectuais, todas ficam incomodadas; afinal, a proposta é que todas leiam Cinquenta Tons de Cinza, de E.L. James. Mesmo sendo uma literatura medíocre, e o filme tem pleno reconhecimento disso, é o que garante que àquelas mulheres comecem a enxergar sua própria sexualidade com outros olhos. Talvez se o grupo de amigas fosse composto por mulheres mais novas, entre 20 e 30 anos, o filme não teria sua devida importância. É bonita, e bem humorada, a forma como elas percebem a relação entre sexo e terceira idade.

Do Jeito Que Elas Querem se prende muito aos estereótipos. Vivian é a solteirona que constantemente tem casos de uma noite com diferentes homens, mas nunca se envolveu completamente com um; Diane (Keaton) é uma mãe que, ao perder o marido, se encontra tentando ser controlada por suas filhas já adultas, que a tratam como se fosse de vidro; Sharon (Candice) é uma juíza de respeito que nunca superou o divórcio e não tem relações sexuais desde então; por fim, Carol (Steenburgen) é uma mulher que parece ter o relacionamento ideal com o marido, até perceber que os dois não transam desde que ele se aposentou. Não é preciso de muita criatividade para desvendar como as coisas se desenrolam.

O tom humorístico do filme parece tirar um pouco do empoderamento que ele representa. Book’s Club retrata a terceira idade como um momento em que também se pode errar, tentar coisas novas e se aventurar. A ideia de velhice ser associada à sabedoria não exclui nenhuma dessas possibilidades, e a amizade entre elas é um componente extremamente fortalecedor nesse sentido. Por se conheceram há mais de 40 anos, elas sabem umas das outras e estão prontas para oferecer um ombro amigo ou um tapa na cara (literalmente) sempre que houver a necessidade.

Falar de sexo na terceira idade ainda é um tabu, e qualquer obra que se comprometa e desafiá-lo deve ser reconhecida. Book’s Club peca em inúmeros momentos, seja por uma trama extremamente previsível ou por piadas completamente desnecessárias; mas é um filme sobre vitalidade, sobre quebrar paradigmas. O quarteto se complementa durante todo o filme, e a cada taça de vinho elas parecem ainda mais conectadas -- e se toma muito vinho nos 104 minutos. Do Jeito Que Elas Querem é uma comédia leve, com final e desenrolar clichês, mas que vale a pena ser assistida.

 

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