O amor da vida a dois está cada vez mais em xeque no mundo contemporâneo. Com relações sociais cada vez mais dinâmicas, a não-monogamia (ou, simplesmente, poligamia) ganhou contornos mais profundos nas relações -- além de colocar a vida a dois, com exclusividade no amor e no sexo, cercada de dúvidas. E é justamente sobre esse formato de relações que o filme Diorama, estreia nos cinemas desta quinta-feira, 8, questiona e busca compreender detalhes.
Dirigido por Tuva Novotny (Blindsone), que também assina o roteiro, o longa-metragem possui duas linhas narrativas que se conversam. A primeira é a história de um casal de meia-idade, protagonizado por David Dencik e Pia Tjelta, que está passando pela tradicional crise que atravessa casais nesse período da vida. Eles caíram na rotina, já não transam mais, passam por um certo aborrecimento com todas as obrigações que precisam cumprir no seu dia a dia.
A partir daí, Novotny vai refletindo não só sobre essa obrigação de se manterem fiéis um com o outro, como também deixa claro que as convenções também não fazem mais sentidos na sociedade complexo em que vivemos. Diorama, assim, vai introduzindo conversas e discussões -- seja entre o casal em si ou com terceiros, principalmente colegas de trabalho e amigos -- para apimentar ainda mais essa reflexão e trazer algumas respostas para perguntas ali colocadas.
A segunda linha narrativa, enquanto isso, surge a partir de esquetes (ou "dioramas", como diz o material de divulgação do longa-metragem). Histórias, principalmente envolvendo animais e rotinas de acasalamento, vão complementando a ideia de que a monogamia não é algo natural. Por meio de histórias com galos, galinhas e macacos bonobos, mostra como a sexualidade é fluída para além das fronteiras humanas. Ou seja: Diorama conta com fronteiras delimitadas.
Novotny quer questionar e fazer refletir sobre essa obrigações sociais referentes ao sexo e ao amor, sempre com uma linha de pensamento bem definida. Por um lado, traz ideias geralmente não muito abordadas no cinema. Afinal, histórias de amor são sempre preto no branco, com amores, desamores, casamentos eternos e traições. Esta produção finlandesa, enquanto isso, alarga limites e mostra que pode existir coisas fora disso caso as partes queiram e aceitem.
O grande problema é que essas duas linhas narrativas, ainda que conversem, não possuem a convergência necessária. Veja: a história do casal é a base; as esquetes são a teoria, a aplicação das ideias da cineasta dentro da trama-base. É preciso que essas duas coisas caminhem juntas. Só que não é exatamente isso que acontece: Diorama acaba tendo uma variação grande entre esses dois formatos e a mensagem, aos poucos, vai se tornando embaçada, sem vida e graça.
No final, essa mistura de Sex Education com História de um Casamento parece perder oportunidades ao não conseguir se aprofundar em temas que mereciam mais atenção. A tal discussão da monogamia e poligamia, por exemplo, acaba ficando abaixo inclusive de uma história que fala mais sobre infidelidade do que sobre a natureza humana. Uma pena. Fica a sensação de que há um bom filme aqui, mas soterrado por ideias de uma diretora empolgada.
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