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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Deus é Mulher, E Seu Nome é Petúnia' questiona dogmas religiosos


A pequena e pacata cidade de Stip, na Macedônia, mantém vivo um ritual: todo mês de janeiro, o padre joga uma cruz no rio. Quem achar o artefato religioso deve ter bonança e sorte durante todo o resto do ano. No entanto, nem todos da cidade podem participar da caçada aquática pela cruz: de acordo com a tradição, ditada pela Igreja e pelos locais, apenas homens são permitidos.


Essa tradição, porém, é quebrada depois que Petúnia (Zorica Nusheva) decide pular no rio e, por fim, consegue recuperar a cruz. Desempregada e morando na casa dos pais aos 32 anos, a jovem vê na salvação do artefato um escape da vida atribulada e repleta de problemas. No entanto, a estrutura patriarcal da sociedade e da religião irão colocar barreiras em seu desejo.


Esta é a trama de Deus é Mulher, E Seu Nome é Petúnia, longa-metragem da Macedônia e que marca um amadurecimento completo na carreira da cineasta Teona Strugar Mitevska (Jas sum od Titov Veles, sem título em português). Afinal, mais do que contar a jornada dessa jovem sem perspectivas de futuro, Teona provoca. A religião, a sociedade, o patriarcado, as tradições.


Para isso, ela coloca a figura de Petúnia como uma mulher que toma seu lugar e não larga o osso. É firme, resistente. Enquanto isso, os homens ao seu redor -- nunca vilanizados totalmente pela cineasta, vale dizer -- tentam fazer de tudo para evitar que ela "tome posse da cruz". Afinal, como suportar que uma mulher quebre a tradição e, ainda por cima, se aposse da religião?

A partir disso, Teona, que também é roteirista junto com Elma Tataragic (do excelente Cicatrizes), amplia as provocações. E se Deus fosse mulher? Como a sociedade vai avançar se as tradições não progridem? Por qual motivo a mulher não pode ser filha de Deus, como qualquer homem? E mais: será que a esperança de Petúnia está, de fato, no pedaço santo de madeira?


São dúvidas e questionamentos que se amontoam na tela e ganham força a partir da atuação potente de Zorica Nusheva, que se entrega à personagem e consegue dominar a complexidade das discussões que surgem a partir de seus atos, pensamentos, falas e decisões. Interessante notar, também, seu tom provocativo e o desejo fixo de conseguir mudar o cenário de sua vida.


No entanto, vale ressaltar: Deus é Mulher, E Seu Nome é Petúnia é um filme cansativo, que anda em círculos -- algo até que compreensível aqui, visto o objetivo final da mensagem. No entanto, por volta dos 60 minutos de duração, o longa-metragem começa a causar cansaço. Continua interessante. Mas aquela olhadela no relógio -- e no celular, se estiver em casa -- é inevitável.


Por isso, Deus é Mulher, E Seu Nome é Petúnia acaba tendo um resultado aquém do esperado no final. Por mais que seja consciente a força que existe em sua mensagem, em sua personagem e na atuação libertária de Zorica, o longa acaba sendo marcado pelo ritmo letárgico. Mas, ainda assim, vale assistir. É um filme de resistência conectado com as discussões dos dias atuais.

 
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