O cineasta Alfonso Cuarón fez história com filmes como Gravidade e Filhos da Esperança. E agora, o filho Jonás Cuarón está tentando seguir o mesmo caminho do pai. Após testar formatos e experiências em curtas-metragens, ele partiu para seu primeiro grande filme com Deserto, longa-metragem com trama de gato-e-rato que ecoa em políticas sociais de Donald Trump e que encaixa como crítica perfeita ao que os mexicanos estão precisando enfrentar no país.
Não tem muito o que falar da trama -- afinal, ela é um fiapo, quase inexistente. De maneira bem básica, então, Deserto acompanha um grupo de mexicanos que tenta entrar nas terras do Tio Sam de maneira ilegal, atravessando a fronteira entre os dois países. No entanto, os imigrantes não esperavam encontrar um “lobo solitário”, um homem qualquer e sozinho que fica vigiando a fronteira e que mata qualquer um que tenta atravessar. Isso mesmo: ele dá tiros em mexicanos.
A partir daí, o roteiro -- também escrito por Jonás -- cria uma trama de gato-e-rato, de pura perseguição. Não há muito história além da metáfora óbvia e que permeia toda a narrativa. Gael García Bernal, que faz um dos mexicanos, e Jeffrey Dean Morgan, que faz o homem que mata imigrantes, não contam com muito trabalho interpretativo. As sequências de Jonas são simples: Morgan mata mexicanos, eles fogem, começa a perseguição e ele mata mais alguns. E o ciclo recomeça.
Assim, até certa parte do filme, a história de Deserto funciona. É angustiante ver a caçada de Morgan e Bernal, que às vezes se inverte e outras ganha recursos óbvios, mas divertidos de ver na tela. Cuarón, apesar de mostrar certa insegurança com a câmera, tem um e outro bom momento como diretor, criando algumas cenas que causam forte angústia pelo vazio daquele deserto que toma conta da fronteira. É angustiante ver a caçada em meio ao nada daquele lugar.
Sobre angústia, aliás, é estranho perceber que os personagens não criam vínculo. Apesar do espectador torcer, naturalmente, para Bernal, falta alguma coisa, um aprofundamento maior na narrativa. Não sabemos nada sobre aqueles dois e entendemos muito pouco quais motivos fizeram a personagem de Jeffrey Dean Morgan assumir aquela caçada. No final, o único personagem que cria vínculos é o cachorro. Afinal, não precisamos de histórias com animais para um vínculo nascer.
Deserto é um filme que serve como uma boa crítica para o momento que vivemos -- ainda que ele tenha sido filmado há dois anos e só esteja chegando agora aos cinemas, de forma bem atrasada. Tem boas cenas de perseguição e é angustiante por conta de planos visuais da região. Ainda assim, porém, fica o gosto de que faltou algo, de que o filme não completa os sentimentos do espectador. Sem dúvidas, faltou experiência para Cuarón. Ele precisa de muito chão para chegar perto do pai.
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