Encantada foi um dos maiores e mais inesperados acertos da Disney nos anos 2000. O estúdio estava ficando para trás na onda de filmes que riam de si próprios, como Shrek, e resolveu embarcar na onda criando um filme que ri das suas princesas e da artificialidade quase juvenil dessas histórias. Encantada se tornou um frescor dentro do que a Disney estava produzindo. Por tudo isso, Desencantada mostra como o estúdio do rato simplesmente perdeu o ritmo da coisa.
Estreia desta sexta-feira, 18, no Disney+, o filme busca falar sobre o que aconteceu depois do "felizes para sempre". Para isso, a tríade de roteiristas formada por David N. Weiss, J. David Stem e Richard LaGravenese mostra como Giselle (Amy Adams), que tinha a vida perfeita, agora está desencantada com tudo ao seu redor. A enteada Morgan (Gabriella Baldacchino) não é mais uma criança fascinada por magia e, com isso, toda a relação familiar passa pelo momento de dúvida.
É aí que a protagonista, num passe de mágica, faz uma magia toda desengonçada e pede que a sua vida se transforme em um conto de fadas. Pronto: a partir daí, o filme agora dirigido por Adam Shankman (de episódios da série Glee) começa a mostrar como uma vida de contos de fadas pode não ser tão perfeita quando parece -- principalmente para Giselle que se esquece de seu papel na vida de Morgan e passa a enfrentar uma transformação brusca de personalidade.
O começo do filme é gracioso, com Adams encarnando a personagem Giselle como se não tivessem passados 15 anos. Principalmente nas cenas de mudança de personalidade, a atriz cresce na tela e mostra toda sua versatilidade. É o ponto alto do filme, assim como algumas pequenas referências e brincadeiras narrativas que surgem aqui e ali. Logo no início, também há um bom número musical e, como sempre, é bom ouvir Adams e Idina Menzel (Frozen) cantando.
Mas, depois disso, não sobra mais nada. Desencantada perde todo seu encanto (desculpe pelo trocadilho) e repete piadas que eram novas há 15 anos. Se torna cansativo e repetitivo, principalmente pela necessidade da Disney em fazer com que todas suas sequências sejam exageradamente grandiosas, magníficas, barulhentas. Não precisa, de forma alguma, elevar o tamanho do filme anterior, mas sim a qualidade. Toda a graça de Encantada, enfim, se perde.
No final, sobra um filme sem personalidade e sem vida, como está acontecendo com quase tudo que a Disney coloca nas telas. O estúdio desesperado em mexer com a nostalgia das pessoas precisa encontrar novamente seu prumo e criar histórias com sentimento, com verdade e com emoção. Fazer filmes no automático, que um algoritmo poderia fazer, não fazem mais sentido. E o aguardado Desencantada, infelizmente, entra nessa leva de falta completa de personalidade.
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