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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Depois a Louca Sou Eu' lida com a ansiedade em tempos modernos


Saúde mental, nos últimos anos, deixou de ser um tabu para ser algo mais aceito em rodas de discussão. Obviamente, muita coisa ainda precisa avançar. Mas já é um começo. E, sem dúvidas, filmes como Depois a Louca Sou Eu ajudam a aprofundar ainda mais essa discussão com retratos cada vez mais naturais e verdadeiros sobre o que é sofrer de algum transtorno mental.


Aqui, no caso, acompanhamos Dani (Débora Falabella). Ela, que na obra original de Tati Bernardi é uma espécie de alter ego da autora, sofre de crises fortes de pânico e ansiedade. Em momentos aleatórios, mas que acabam causando estresse na personagem, ela fica preocupada com seu futuro, com a morte dos pais e coisas do tipo. Ela, no dia a dia, não consegue relaxar.


Assim, a partir de uma direção vigorosa de Julia Rezende (Ponte Aérea), vamos entrando na vida e na mente dessa personagem. Ainda que muitas tentativas de fazer humor não funcionem, e deixem até o roteiro um pouco engessado demais, todo o aprofundamento nas crises de Dani são tratados de forma correta, sem criar um espetáculo cômico em cima de suas questões.

Falabella, que encaixou bem nesse papel de paulista moderninha, é a principal chave dessa produção de Mariza Leão (De Pernas pro Ar). Ela consegue modular bem os humores da personagem, sem cair numa artificialidade comum da temática. Além disso, se deixa levar pela direção criativa de Rezende, que vai cobrindo todos os lados da construção desse cenário.


Afinal, ao contrário de muito filme e livro por aí, Depois a Louca Sou Eu não banaliza ou simplifica a crise de pânico e de ansiedade. Com uma produção que não economiza, repleta de cenas elaboradas de apenas alguns segundos, acompanhamos a jornada emocional dessa personagem ao longo de sua vida. Entendemos, assim, como ela chegou no ponto que está.


Interessante notar, também, como o filme retrata as buscas pela cura da protagonista. O médico que receita qualquer coisa, a psiquiatra com problemas, os tratamentos alternativos... Tudo isso, além da relação com o namorado Gilberto (Gustavo Vaz), faz com que Depois a Louca Sou Eu traga com força a discussão dos tempos modernos de que ninguém, de perto, pode ser normal...


Obviamente, como dito, muita coisa na história não funciona. A infantilização de alguns aspectos da produção, a simplificação de algumas resoluções, piadas que não encaixam. Mas tudo bem. Apesar de problemas, Depois a Louca Sou Eu cumpre seu dever principal de respeitar uma questão psicológica e, acima de tudo, mostrar para o espectador que ele não está sozinho nessa.

 
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