Foi em 2018 que chegou aos cinemas nacionais o primeiro filme brasileiro sobre o autismo: o bom Em um Mundo Interior. Traz algumas boas reflexões, excelentes histórias. Naquela época, já aqui no Esquina, elogiei a produção. Mas deixei claro: era um filme formulaico -- palavra, aliás, que ainda não consta nos dicionários, mas se encaixa como uma luva na definição que buscava.
Agora, volto a usar a expressão para falar sobre Delicadeza é Azul, documentário que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 15. Dirigido pela dupla Yasmin Garcez e Sandro Arieta, o longa-metragem tem como principal arma a informação. Assim como Em Um Mundo Interior, quebra tabus, paradigmas e ideias pré-concebidas para mostrar a vida de pessoas com autismo.
Há delicadeza no trato e, sobretudo, cuidado na forma de conduzir as histórias -- nunca encontramos nenhum tipo de sensacionalismo, já que tudo é feito com a máxima noção dos limites necessários. No entanto, para por aí. Ainda que haja outras tentativas clara de ir muito além, o filme acaba ficando no raso, no óbvio. Ou, como já disse antes, o filme fica formulaico.
Há mais de uma dezena de entrevistas, colocadas uma atrás da outra em uma edição sonolenta. Com trinta ou quarenta minutos de filme, a sensação é de que já assistimos tudo. Enquanto isso, não há grandes sacadas para romper esse ritmo que toma um caminho óbvio, cansativo e sem grandes arroubos. A tentativa de colocar imagens feitas pelos entrevistados não vai pra frente.
O mais frustrante, porém, é quando Delicadeza é Azul tenta aprofundar sua discussão ao trazer especialistas em sentidos -- Ney Matogrosso é o mais ilustre, falando sobre audição. A sensação geral é de que é uma boa ideia, mas mal executada. Fica sobrando dentro da narrativa, parecendo um apêndice sem muita serventia. Faltou fazer com que toda narrativa fosse junto.
Por fim, há alguns probleminhas técnicos bem perceptíveis, principalmente quanto à captação do som. Mas tudo, já que não influi totalmente na experiência. O fato, assim, é de que Delicadeza é Azul é uma boa experiência informativa, com boas intenções, mas que não chega ao que quer de fato. Faltou um pouco mais de afinação na parte técnica e narrativa para ir, enfim, além.
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