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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Deixe-o Partir' é faroeste maduro sobre família e maternidade


Muitos filmes já falaram sobre casais que perdem um filho e, imediatamente, o casamento se desfaz, entra em frangalhos. É o caso de O Quarto do Filho, Reencontrando a Felicidade e Entre Quatro Paredes. O excelente faroeste contemporâneo Deixe-o Partir, assim como o título sugere, também fala sobre essa dor e esse luto. Mas com uma roupagem muito mais forte e inteligente.


Dirigido e adaptado pra o cinema por Thomas Bezucha (de De Volta ao Paraíso), o longa-metragem conta a história de um casal (Diane Lane e Kevin Costner, ambos excepcionais) que perde o filho de uma hora para a outra. De repente, porém, a coisa piora. Afinal, a nora conhece outro homem e, junto com o neto desse casal de protagonistas, sai da cidade e parte sem adeus.


Tristes com a perda do filho e ansiando por alguma conexão com o neto, esses dois avós decidem ir atrás da nora. Querem entender melhor o que aconteceu, onde ela vai ficar, como está o menino. É aí que começam as boas sacadas de direção de Bezucha, que cria um faroeste moderno em que esses dois protagonistas entram em colisão com a outra avó (Lesley Manville).

Pode-se dizer que o filme é inteligente quando Deixe-o Partir não tenta trazer outras explicações mais racionais para essa busca desenfreada pelo neto, principalmente da avó interpretada por Diane Lane (Infidelidade). É um motivador muito humano, real, social. Margaret, a personagem em questão, é movida por uma força maior, enquanto o marido tenta acompanhar a sua força.


Bezucha comete alguns deslizes aqui e ali, como a necessidade de colocar um nativo norte-americano na trama, mesmo sem grande fundamento para aquilo, e até por uma caracterização exagerada de Manville e de seus filhos -- como se fossem caipirões ignorantes, numa estereotipação já ultrapassada. Parece que o cineasta modernizou apenas parte do faroeste.


Felizmente, porém, o elenco está afinadíssimo. Lane tem sua melhor atuação desde Trumbo: Lista Negra, de 2015. Kevin Costner traz uma fisicalidade interessante para o longa-metragem, mostrando como o astro, mesmo na terceira idade, rende boas cenas tensas -- a do quarto de hotel é forte demais. E Manville (Trama Fantasma) vence todas as barreiras da personagem.


Dessa forma, Deixe-o Partir é um dos filmes mais interessantes de 2021. Apesar de algumas fragilidades na criação e construção desse faroeste moderno, como a necessidade de se prender à símbolos que não fazem sentido na história, o longa-metragem acerta. Acerta, enfim, na trama, na emoção da personagem de Lane, nas atuações. Sem dúvidas, boa surpresa do ano.

 
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