Vou começar este texto com uma experiência pessoal. Quando estava na faculdade, resolvi que faria meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre personalidades da música que fizeram muito sucesso no passado e, depois, caíram no ostracismo. Seria um livro de perfis com mais de duas dezenas de nomes. Foi quando, no meio do processo, percebi que não seria o melhor caminho: faltava foco e havia um exagero de assuntos. Cortei. Ficou, no final, apenas um músico.
E foi justamente esse revisionismo de conteúdo, que sofri na época da faculdade, que faltou no documentário Danças Negras. O título do filme, dirigido pela dupla Firmino Pitanga e João Nascimento, aparenta ter um propósito firme, a já começar pelo título: falar sobre a evolução, a chegada e a importância da dança negra. Algo aparentemente específico, que poderia render um documentário artístico potente resgatando essa arte pouco lembrada por parte da população.
No entanto, não é nada disso que vemos na tela. Firmino e João se perdem. O documentário, ao longo de seus 71 minutos, se perde completamente. Ainda que traga algumas reflexões aqui e acolá, Danças Negras acaba perdendo algum tempo falando de academicismos e até sobre a situação da Universidade Federal da Bahia -- que, no final das contas, não avança muito no tema central. E ainda comete o absurdo, totalmente fora da lógica, de entrevistar um dos diretores.
Depois, quando o tema parece voltar ao eixo, parece que não há muito mais vida no que está sendo contado. Ainda que tenha grandes nomes sendo ouvidos, há pouca coesão -- alguns depoimentos se repetem, outros não saem muito do lugar. Fica a sensação de estarmos vendo algum tipo de reportagem para a TV, sem qualquer tipo de linguagem cinematográfica tomando essas danças negras para si e transformando o longa-metragem em algo vívido, de experiência.
E o pior, porém, é a sensação de desrespeito com as danças negras em si. Nunca vemos uma dança inteira na tela. São excessivamente picotadas. Ouvimos muitas entrevistas e muitos depoimentos, mas vivemos pouco da materialidade das danças. E teria algo mais bonito do que deixar a dança negra falar por si? Deixar o corpo se expressar, a dança mostrar suas raízes e suas origens. Uma pena. É um blá-blá-blá academicista sem fim, sem nunca se aprofundar.
Faltou, enfim, esse corte inicial que comentei, esse foco, essa busca por explorar e refletir sobre o tema central. A beleza aqui fica apenas pelo resgate dessa dança em si, tão marginalizada por parte da sociedade. Vale as duas "esquinas" logo abaixo. E só. É um filme com potencial, que tinha muitas figuras intelectuais e importantes à disposição, mas que acaba morrendo na praia com essas boas intenções nunca desenvolvidas. Fica apenas o desejo, enfim, de saber mais.
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