Em 1897, o jovem Edmond Rostand (Thomas Solivéres) tentava emplacar uma peça de teatro de sucesso na França. Mas o fracasso o perseguia. Bloqueado criativamente pelo medo de se tornar chacota nacional, o dramaturgo entra num longo período de baixa produção. Até que, por uma situação real envolvendo um amigo próximo, ele acaba tendo a ideia de criar a história sobre Cyrano de Bergerac, protagonista da peça homônima que se tornou o maior sucesso teatral de toda França em pleno século XX.
Cyrano Mon Amour, filme de Alexis Michalik (No Chão), se propõe a contar os bastidores de criação dessa peça, que já rendeu mais de 20 mil interpretações diferentes e que ganhou um filme protagonizado pelo astro Gérard Depardieu. Vistoso, o novo longa, que passou no Brasil primeiramente pelo circuito do Festival Varilux de Cinema Francês, é daqueles raros exemplos de filmes que conseguem agradar diversos públicos. Fãs de teatro, leigos, conhecedores da obra de Edmond, franceses, estrangeiros. É universal.
Afinal das contas, o filme é um retrato delicioso do que é o teatro. Apesar de ser uma arte um tanto quanto restrita no Brasil, por conta de seu alto preço de ingresso e outras particularidades, esta é a forma mais natura de contato entre público e intérpretes. É interessante, então, mergulhar na criação de um expoente do teatro mundial e que fala com diversas culturas. Mais do que ver a montagem em si, é possível observar desafios, receios, embate de egos, particularidades, grandes momentos sendo vivido ali, na tela.
Além da boa condução de Michalik, que faz boas transições entre atos e acerta na filmagem atrás das cortinas, Cyrano Mon Amour acerta com a escolha de elenco. Solivéres (Respire) mostra que cresceu e que agora consegue encarar bons papéis. Entra na pele de um homem inseguro, mas com um potencial criativo enorme. Vai bem. O mesmo vale pra jovem Lucie Boujenah (Inocência Roubada), que vive boa musa inspiradora. Mas quem rouba a cena é Olivier Gourmet (Dois Dias, Uma Noite), que interpreta o protagonista. É engraçado, ousado, intrigante. É a alma do longa-metragem.
Vale destacar, também, a boa ambientação. As coxias do teatro ganham uma vida ainda mais reluzente com a câmera de Michalik, que aposta em planos longos e que fazem o espectador entender como tudo ali se movimenta. Quando a tela, finalmente, repousa em alguma coisa no palco, dá para entender tudo que aconteceu para chegar até ali.
Mas o filme bem que poderia ter uns 10 minutos a menos. Há uma enrolação aqui e outra ali, que deixam o filme um pouco cansativo. Além disso, falta algo que dê contraponto de fato à produção criativa de Edmond. Só o medo parece artificial ali.
Ainda assim, no geral, Cyrano Mon Amour é uma agradável surpresa do cinema em 2019. Junto com Quem Você Pensa que Sou?, é a melhor produção francesa da safra e mostra como o cinema francês ainda consegue produzir essas pérolas divertidas, gostosas de assistir e com um significado maior por trás. Fãs dos filmes da França, não percam. Sem dúvidas, dá pra sair da sessão mais leve, com vontade de ir ao teatro.
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