A primeira sequência de Custódia, sensacional filme francês que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 5, já mostra a que veio. Sem influenciar muito na cena, o diretor estreante Xavier Legrand deixa que uma audiência de custódia entre Miriam (Léa Drucker) e Antoine Besson (Denis Ménochet) se desenrole na tela. O objetivo é chegar a uma decisão sobre a guarda do filho do casal após o divórcio abrupto e violento entre os dois.
Depois disso, tal qual os irmãos Dardenne tão bem sabem fazer, Custódia traça, de maneira crua, o desenrolar da decisão da juíza, que opta por dar uma guarda compartilhada com o pai. Mesmo, vejam só, com o filho afirmando que não quer mais vê-lo por conta da violência que foi deflagrada em sua casa. Aí, então, fica a dúvida: será que o menino está sendo influenciado pela mãe ou ele não gosta mesmo do pai? O que vai acontecer?
Legrand, mesmo estreante e deixando que as cenas se desenrolem sem influenciar demais a opinião da audiência, dá um show: faz com que tudo flua de maneira natural, quase que documental, permitindo que a angústia da situação vá saindo da tela e, aos poucos, caindo no colo do espectador. É uma ambientação construída, forte, bem criada, que vai ganhando novos aspectos e novos olhares a partir de cada cena, fala, olhar, gesto.
O elenco também ajuda nesse sentido. Léa Drucker (O Melhor Professor da Minha Vida) é apática, como deve ser, e passa um sentimento de falta de ação fortíssimo. Denis Menochet (Apenas um Suspiro) é mais explosivo, ainda que os sentimentos do personagem estejam em constante conflito. É um baita ator. Mas o destaque fica com o menino Thomas Gioria, que faz o filho do casal. É impressionante como ele entra no personagem.
Nessa boa composição de direção inteligente, mas pouco influenciável, e elenco afiado e compreendendo bem seus papéis, o que vai se sobressaindo é o roteiro. Escrito pelo próprio Legrand, a trama de Custódia é como o pavio de explosivo. Por mais sinuoso que ele seja, está claro que a história vai chegar num ponto de explosão, caos. É interessante, então, ver os caminhos que o roteiro toma e as liberdades que se permite. É algo aflorado na tela.
Isso até a parte final do filme -- a tal grande explosão -- quando a câmera do diretor ganha força, deixa de ser documental, e faz com que o filme vire uma espécie de thriller. É difícil respirar ao longo de seus últimos 15 minutos. A tensão chega, pra valer, e não sai até que os créditos subam. Aliás, destaque pra cena imediatamente antes do corte final. Preste atenção na simbologia que o diretor trouxe à tela. É forte e de discussão necessária.
E assim, Custódia se firma como um dos grandes destaques do cinema em 2018. Ousado, corajoso, forte, tenso e com um debate mais que necessário, o filme mostra como a vida real, quando bem retratada, pode ser tensa e angustiante na tela. Não precisa de explosões, efeitos especiais, roteiros rocambolescos. É só uma boa trama, bons atores e um grande diretor. E voilá, temos um dos melhores filmes do ano.
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