Eleitores de grandes centros urbanos do Brasil, como São Paulo, Rio, Recife e BH, vivem em suas próprias bolhas. A maioria desses seres políticos pensa que sistemas de votação são simples, campanhas políticas é aquilo que lemos no jornal e ponto final. Uma corrupção aqui, um desvio de dinheiro ali. No entanto, é no interior que as coisas que se tornam complexas.
Por conta do menor número de eleitores e a proximidade de políticos com o povo, as relações ficam mais próximas -- e um tanto preocupantes. Há ainda muito coronelismo, votos em troca de dinheiro, pressão social. E é sobre isso, e outras coisas, que fala o interessante longa-metragem Curral, parte da seleção oficial da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Dirigido e roteirizado por Marcelo Brennand (do documentário Porta a Porta, também sobre o sistema eleitoral), o longa-metragem busca se aproximar da eleição municipal de uma cidade no interior do nordeste. O foco está principalmente em Chico Caixa (Thomas Aquino), um antigo morador da região que começa a trabalhar como assessor de um novo candidato a vereador.
O melhor de Curral está nas cenas que mostram esses bastidores e essas relações que vão sendo construídas (e destruídas, claro) nos bastidores da política. Aquino impressiona novamente em cena, depois do bom desempenho em Bacurau. O clima eleitoral é bem criado por Brennand e o mergulho nesse mundo tão à parte, tão fora das bolhas, é rico e poderoso.
Uma pena, porém, que Curral tenha uma necessidade latente em fazer um final revelador, explosivo, etc. É uma mania no cinema nacional recente que não dá pra entender. Vai absolutamente na contramão do que tinha sido mostrado até ali. Mas tudo bem. Apesar desse anticlímax, o filme funciona. E Curral é mais um bom drama político produzido no Brasil.
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