A Netflix, nos últimos dias, tem entrado num esforço completo de criar um novo clássico natalino. Mas o resultado, até agora, não foi muito agradável -- só ver o recente A Princesa e a Plebeia, romance insosso que agrada só os que veem sem senso crítico. No entanto, o serviço de streaming conseguiu, finalmente, encontrar o tom nesse subgênero com Crônicas de Natal, lançamento internacional da última quarta-feira, 23.
A trama é bem simples: dois irmãos (Judah Lewis e Darby Camp) resolvem investigar a chegada do Papai Noel (Kurt Russel) na noite de Natal. De repente, eles não só surpreendem o bom velhinho, como embarcam no seu trenó -- causando um grande acidente. A partir daí, a dupla de irmãos terá que trabalhar em conjunto com o Papai Noel, e com os estranhos duendes, para salvar o Natal e instaurar paz em todo mundo.
A direção é de Clay Kaytis, que até então só tinha apresentado o mediano Angry Birds. Em Crônicas de Natal, porém, o cineasta consegue imprimir um tom clássico e inusitado na trama, que remete aos clássicos Esqueceram de Mim, O Natal Mágico e O Expresso Polar. Não são elementos novos e originais, afinal, mas, em conjunto, conseguem criar o clima nostálgico e que serve à trama de Matt Lieberman (do novo A Família Addams).
Grande parte desse mérito também recai sobre o elenco. Kurt Russel (Guardiões da Galáxia Vol. 2) assume o difícil papel de Papai Noel, figura tão presente no imaginário coletivo e que já foi interpretado por Leslie Nielsen, Tim Allen e até Vince Vaughn. Aqui, o astro consegue imprimir um estilo próprio e extremamente realista ao bom velhinho. Faz sentido dentro da história e ajuda a contá-la de maneira mais mágica e delicada.
O grande acontecimento do filme, porém, é a pequena Darby Camp (Benji). Segura de seu papel, ela consegue segurar o filme nas costas nas sequências que enfrenta sozinha ou com seu irmão, interpretado pelo bom Judah Lewis (A Babá). É uma dinâmica infantil -- por mais que o rapaz já seja um adolescente -- que não se vê há algum tempo nos cinemas. Faz com que o filme fique mais leve e divertido.
Há, porém, um ponto a ser questionado: por vezes, o diretor Clay Kaytis não sabe qual o tom de seu longa-metragem. Talvez na ânsia de inserir uma animação, sua especialidade, há a presença de pequenos duendes, que parecem uma mistura de minions com gremlins, que acaba diminuindo um pouco o realismo fantástico da trama. De uma hora pra outra, o filme família se torna uma aventura infantil bobinha. Estranho.
Mas isso, felizmente, é compensado pelas cenas de aventura e fantasia muito bem dirigidas, e com efeitos especiais de primeira -- como não se via desde O Expresso Polar. São de tirar o fôlego e fica a vontade de ver essa boa aventura nos cinemas. E vale ressaltar a boa direção de arte, que sabe recriar a mágica do Natal em trajes e alguns bons cenários da "casa" do Noel. Ponto pra Kimberley Zaharko (Fahrenheit 451).
Assim, Crônicas de Natal -- que não deixa claro o motivo desse nome -- é uma surpresa deliciosa da Netflix. Daqueles filmes que podem, quem sabe, se eternizar no imaginário popular natalino e, no futuro, se tornar uma das referências das boas histórias de Natal que já povoam a sétima arte. É realista, é fantasioso, é engraçado, é emocionante, é muito bem dirigido e atuado. Grata surpresa pra rever, sem falta, na Véspera de Natal.
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