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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Cristina 1300: Affonso Ávila - Homem ao Termo' é convite à poesia


Que o documentário brasileiro está anos-luz à frente de outros países, não há dúvidas. Temos experimentações linguísticas, brincadeiras narrativas e, sobretudo, uma busca em resgatar a nossa identidade como povo, como nação, como País -- mesmo com todos os problemas que nos cercam. Por isso, não é exatamente surpresa que Cristina 1300: Affonso Ávila - Homem ao Termo, pequeno documentário que estreia nesta quinta-feira, 21, seja um filme muito bom.


Pequeno, aliás, talvez seja um reducionismo que o filme não merece. É pequeno, enfim, por ser uma produção sem muito dinheiro -- nada daqueles estrondosos investimentos que temos em documentários de grandes serviços de streaming. Aqui, a cineasta Eleonora Santa Rosa assume a responsabilidade de falar sobre a vida de Affonso Ávila, poeta genial e que poucos conhecem.


Afinal, veja só: nascido em BH, Affonso "ganhou duas vezes o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Poesia, por O Visto e o imaginado (1991) e Cantigas do Falso Alfonso El Sábio (2007), além do Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) em 2002, e do Prêmio Fundação Conrado Wessel (Prêmio FCW - Cultura), em 2007". É premiadíssimo e, ainda assim, não é reconhecido -- quando comentei sobre o documentários com colegas, não o conheciam.



Cristina 1300: Affonso Ávila - Homem ao Termo, assim, já nasce com função nobre: resgatar a memória e apresentá-lo ao País. Santa Rosa, assim, faz um trabalho minucioso a partir de uma generosa entrevista que Affonso concedeu, assim como também com a leitura de poemas e alguns documentos e imagens de arquivo. É, basicamente, um convite para mergulhar na obra.


O melhor, porém, é que o documentário não se contenta em ser apenas um filme de introdução. Lembrando um pouco o documentário Antonio Candido, Anotações Finais, que estreou há algumas semanas, o filme também se torna uma experimentação narrativa quando não faz um formato óbvio de documentário biográfico. Não há exatamente começo, meio e fim, mas sim uma busca quase concreta em retratar as várias faces do poeta -- assim como as suas ideias.


É fortíssimo o momento, por exemplo, em que a narrativa linear para e temos uma interpretação enérgica de um poema de cunho bastante social, o fortíssimo O Poeta é um Terrorista. Nessa mescla de proposições narrativas, Cristina 1300: Affonso Ávila - Homem ao Termo avança, questiona, provoca, instiga. Não apenas resgata a memória literária do Brasil, como também apresenta essa visão social do poeta, dando maior dimensão à sua obra.


Cristina 1300: Affonso Ávila - Homem ao Termo é um filme potente, necessário, de resgate, mas também de observação. Com imagens de importância já histórica para a literatura brasileira, é um filme que funciona por si só, conhecendo ou não a obra de Affonso Ávila. Vale assistir, mas é preciso correr: serão três sessões no Espaço Augusta de Cinema (quinta-feira, dia 21/11, às 21h, com debate; e duas sem debate, uma na sexta, 22, 15h30, e outra na segunda, 25, 15h30.

 

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