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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Criaturas do Senhor' é filme doloroso, mas que demora para engrenar


Até 50 minutos de projeção, não conseguia entender o objetivo de Criaturas do Senhor. Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 13, o longa-metragem começa com uma premissa simples: a história de Brian (Paul Mescal), um pescador que volta para o pequeno vilarejo em que sua família mora. Só que sua chegada causa um rebuliço: ainda que a mãe (Emily Watson) fique feliz com sua chegada, outras pessoas demonstram desconfiança e infelicidade -- o caso do pai.


No entanto, com 50 minutos, tudo muda. Criaturas do Senhor, de um minuto para o outro, ganha força, pungência, atualidade. Uma trama polêmica, principalmente por tratar de um assunto importante e necessário até mesmo com certa frieza, mas que traz uma discussão sobre família e relações sociais que instiga: o que você faria sabendo que seu filho, ou algum familiar muito próximo de você, está cometendo ou cometeu algum tipo de crime? Vai ajudá-lo ou condená-lo?

Sem avisar, o longa-metragem chega como uma avalanche. Traz uma história absolutamente contemporânea e que instiga. Nos tira de um lugar confortável, de passividade, para passar a dialogar com o filme -- mesmo que em silêncio. Tudo isso surge não só pela história, mas também pela atuação precisa de Watson: a atriz, que é subestimada em Hollywood, carrega a dor da personagem no semblante. A dúvida a machuca, a atrapalha, a constrange.


E nós, vendo esse sentimento da personagem, sofremos junto. E sentimos raiva, e sentimos dor, e sentimos angústia. As diretoras Saela Davis e Anna Rose Holmer guardam o ouro pro final. Depois dessa montanha-russa de emoções, elas tomam partido (principalmente em uma cena de um velório) e indicam uma direção inesperada. Criaturas do Senhor não é um filme fácil, simples, de ampla compreensão. É duro, áspero e exige que o espectador esteja empenhado.


Uma pena só que o começo seja tão letárgico. Teria sido mais interessante ter essa virada com 20 minutos de filme, por exemplo, na transição do primeiro pro segundo ato, ampliando ainda mais o dilema moral que se estabelece. Mas tudo bem: apesar desse erro de ritmo e de condução inicial, Criaturas do Senhor funciona e fica preso na memória por alguns dias. Escrevo este texto cinco dias depois de assistir ao filme e ainda me questiono: o que eu faria nesse caso?

 

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