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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Corpo e Alma’ é onírico e delicado filme romântico húngaro


Quase todo ano essa situação se repete: os cinco concorrentes na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar se sobrepõem, em qualidade e originalidade, aos indicados de Melhor Filme. Seja por culpa do conservadorismo da Academia ou da pouca divulgação de filmes legendados nos Estados Unidos, essa situação é recorrente e só mostra os vários e vários problemas na escolha dos indicados ao prêmio máximo do cinema. E, em 2018, isso não é diferente.

The Square, Sem Amor, O Insulto, Uma Mulher Fantástica e Corpo e Alma são muito mais criativos e bem-feitos do que alguns dos indicados na categoria principal, como The Post, O Destino de uma Nação e, arrisco dizer aqui em público, Corra!. Sem Amor é um verdadeiro soco no estômago, The Square é uma intensa provocação à arte e Uma Mulher Fantástica é o melhor do cinema latino. E Corpo e Alma, filme húngaro, é um sopro de originalidade num mar de mesmice.

A história, um romance, é curiosa: numa dualidade entre o dormir e o acordar e o sonho e a realidade, dois colegas de trabalho que não se conhecem direito têm sonhos exatamente iguais, surpreendendo uma psicóloga da empresa. Eles, então, acabam se encontrando diariamente, todas as noites, nesse estranho mundo paralelo de fantasia e sonho. Quando chega a hora de se confrontarem no mundo real, porém, a situação se mostra ainda mais complexa.

Vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim 2017, Corpo e Alma tem uma delicadeza sem fim -- muito por conta da direção precisa e onírica da húngara Ildikó Enyedi (de Simon Magus). Ela, afinal, tinha uma tarefa difícil em mãos: o romance dos dois protagonistas tinha a possibilidade de cair para o banal, se trabalhado de forma artificial e repleto de recursos narrativos fáceis, como clichês estilísticos e visuais. Só que Enyedi vai pelo caminho mais difícil e superior.

O silêncio, por exemplo, impera em toda a produção. Alexandra Borbély e Géza Mocsányi, os dois atores protagonistas, trabalham perfeitamente a introspecção de seus personagens. A troca de olhares, tal qual num filme de Pablo Giorgelli ou até Stanley Kubrick em alguns de seus trabalhos, é o imperativo em Corpo e Alma. Dada a situação dos dois personagens, os gestos falam mais do que palavras. E Enyedi, com a câmera, consegue passar tudo ao espectador.

Além disso, Corpo e Alma tem um roteiro que acerta em seus principais pontos -- ainda que tenha algumas passagens que poderiam ser podadas, como uma subtrama no abatedouro e alguns exageros visuais. No entanto, quanto ao romance dos dois protagonistas, o tom é acertado. No final, a história sobre a descoberta do outro e de si mesmo é o que transborda das histórias e que atinge em cheio o espectador. Sentimento, aliás, difícil de ser tirado de um filme.

Corpo e Alma não é o melhor na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro -- a meu ver, The Square e Sem Amor saem na frente. Entretanto, é superior a alguns dos indicados à Melhor Filme. Ou seja: vá correndo ver esse e os outros quatro concorrentes da categoria. Vale a pena.

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