A pandemia do novo coronavírus mexeu com o mundo. Ainda que seja exagero falar em um "novo normal", países ficaram vazios, comércios paralisados e sociedades inteiras com medo. É natural, assim, que filmes e documentários busquem maneiras de retratar os diversos aspectos dessa pandemia para que gerações futuras entendam e compreendam o impacto do momento.
No Festival de Toronto, já foi exibido o caótico e poderoso 76 Days. No Amazon Prime Vídeo, entrou o humor cáustico de Borat: Fita de Cinema Seguinte, passado em parte na época de quarentena nos Estados Unidos. Agora, chega via Mostra Internacional de Cinema de São Paulo o aguardado Coronation, filme dirigido por Ai Weiwei e que mostra o caos na chinesa Wuhan.
Montado a partir das filmagens de diversos moradores da região, Coronation é um mosaico de histórias, sensações e perturbações que afetaram essa região considerada o "berço" do coronavírus. Assim, ao contrário de 76 Days, não há foco em apenas um único lugar. Há, assim, uma tentativa de mostrar várias histórias, vários personagens e diversas emoções na tela.
Ainda que seja um registro histórico potente e importante, o filme de Weiwei comete o mesmo erro de seu conterrâneo e contemporâneo exibido no TIFF. Conforme falamos aqui no Esquina, o longa-metragem acerta ao trazer o ambiente caótico de um hospital no início da pandemia, mas erra ao não trazer histórias frequentes que criem algum vínculo emocional com o espectador.
Em Coronation, há maior dinamicidade de ambientes e isso acaba refletindo no impacto da produção. Uma história contada no começo não tem continuidade. O filme dá saltos caóticos, sem rumo, à esmo. Entendemos o que está acontecendo e o impacto dessa pandemia, mas nada mais. Mais do que um filme, Coronation é um documento histórico. Cinema fica de escanteio.
É um erro parecido que Weiwei cometeu em Human Flow: Não Existe Lar se Não Há Para Onde Ir, sobre a crise de refugiados. Há uma potência nos registros, mas não há profundidade emocional no que está sendo contado, tampouco algo que vá além da História. Parece, assim, que é um filme para que filhos, netos e bisnetos assim no futuro e entendam o que passamos.
Não é ruim, vale dizer. É interessante, de alguma forma, mergulhar no caos de Wuhan e a maneira que a China tratou a pandemia -- Weiwei, aliás, tenta bater com mais força nessa tecla já perto do final, mas acaba sendo muito apreçado. Assim como 76 Days não conseguiu criar o relato definitivo, Coronation também não o fez. Ainda precisamos esperar mais tempo para isso.
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