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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Tem algo de muito bom por baixo de 'Coringa: Delírio a Dois'



É interessante notar como Coringa: Delírio a Dois é uma espécie de antítese do que foi o primeiro longa-metragem -- largamente elogiado por público e crítica, inclusive reconhecido no Oscar. Agora, o cineasta Todd Philips parece renegar todo esse sucesso com um filme que não segue a mesma fórmula: Arthur Fleck (Joaquim Phoenix) está totalmente diferente.


Enquanto no primeiro filme vemos o Coringa nascendo de dentro do protagonista, aqui vemos o personagem lutando contra essa personalidade. No primeiro, o auge é o nascimento no Coringa. Neste, vemos ele mais pra baixo, mais tenso e menos apto a se compreender, enfim, como dois.


As coisas ficam mais complicadas, porém, quando Arlequina (Lady Gaga) entra na vida de Arthur. Os dois, presos em um hospital psiquiátrico, parecem feitos um para o outro. Será? Não há um entendimento claro de qual é o real interesse da personagem em Arthur, enquanto ele comanda o delírio. Quer viver um amor, ser amado, e a Arlequina parece entregar tudo para ele.


Engana-se quem pensa que o delírio a dois no título fala sobre o casal vivido por Phoenix e Gaga. O delírio, na verdade, acontece quando falamos de Arthur e Coringa, duas personalidades lutando dentro de uma mente que não consegue se compreender como uma coisa só.



Assim, Coringa é histriônico, Delírio a Dois é silencioso; Coringa é ativamente político, Delírio a Dois abraça a discussão psiquiátrica da coisa; o primeiro é ação, com tiro, porrada e bomba, este é musical. Aliás, as músicas, tão questionadas quando anunciadas, não são um problema aqui: viram um dispositivo dramático interessante, nos colocando dentro da mente de Fleck.


Philips, assim, parece estar seguindo ativamente um caminho contrário de tudo que foi construído em Coringa -- ele, tão acostumado por ser rejeitado pelas comédias que fez no passado, parece renegar o sucesso. Quer incomodar, cutucar, causar e, com isso, ser ousado.


O problema é que todas essas boas ideias, que trazem um longa-metragem interessante sobre essa briga entre Arthur e sua sombra, como demonstrada na animação no começo do longa-metragem, estão soterradas por um filme que se prolonga demais. O segundo ato como um todo é arrastado, chato, sem ritmo: fica a sensação de que só prolongaram o primeiro ato.


Saí do filme com a sensação (errônea, vale dizer, que mudou conforme mais pensava e lia sobre o filme) de que a história de Philips não tinha nada a dizer. Fruto dessa prolongação exagerada de uma história, dando a sensação de ser apenas um apêndice do que foi visto no primeiro filme.


Pelo menos Coringa: Delírio a Dois retoma a garra (e a vontade) nos últimos 10 minutos, quando Philips passa a compreender o personagem não apenas como uma pessoa comum, banal, mas como uma ideia que se propaga. É bom -- de verdade. Alguns não gostaram, mas mostra um comentário interessante sobre um personagem que vai muito além de ser só o vilão do Batman.

 

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