O astro Keanu Reeves, sem dúvidas, está em alta. A franquia John Wick está chegando ao terceiro capítulo e o frenesi é grande ao redor do lançamento. No entanto, o ator canadense ainda tem alguns percalços no caminho. Cópias: De Volta à Vida é mais um caso na carreira de Reeves. Fazendo companhia com outros trabalhos medianos do ator, como Siberia, Bata Antes de Entrar e Filha de Deus, o novo longa-metragem erra ao apostar alto. Tenta criar uma trama de ficção científica grandiosa e termina com um filme repleto de falhas, falta de orçamento, atores pra baixo e cenas que constrangem.
A trama, afinal, é interessante. O cientista Will Foster (Reeves) trabalha em um laboratório que, dentre outras coisas, faz transferência de consciência de pessoas mortas para robôs. Só que ele acaba perdendo os limites da ética quando sua esposa e seus três filhos morrem em um trágico acidente de carro. Mais do que transferir a consciência para robôs, o protagonista vai tentar criar clones, saudáveis biologicamente, que possam receber pensamentos e sentimentos dos familiares mortos tragicamente.
O fato é que o diretor Jeffrey Nachmanoff (do mediano O Traidor) pega essa premissa até que interessante, roteirizada por Chad St. John (A Justiceira), e começa a acrescentar elementos que não cabem dentro do orçamento de US$ 30 milhões do filme -- para se ter uma ideia, Vingadores: Guerra Infinita custou US$ 320 milhões. O CGI de Cópias, por exemplo, arranca o espectador do filme. Um robô, logo nos primeiros cinco minutos, é terrivelmente mal feito. Dá quase para ver por trás dos efeitos na tela.
Fora isso, muitas coisas e situações difíceis, que podiam ser aproveitadas pelo roteiro de St. John, são jogadas no lixo com ideias muito, muito ruins. Em determinada sequência, o personagem de Keanu Reeves tem um momento A Escolha de Sofia, na qual ele precisa escolher por vidas que ama. E como ele resolve isso? De uma maneira que deixaria Meryl Streep envergonhada: colocando papéis com nomes em uma tigela e exigindo que seu assistente faça um sorteio. Isso mesmo. Vidas de familiares num pote.
Esse momento, porém, é apenas uma fração de vários erros que o filme vai cometendo ao longo do caminho e o tornando quase insuportável -- por um fio de cabelo, apenas, ele não se torna intragável. E é impossível não ter uma sensação de que se o longa estivesse em boas mãos, uma boa história poderia ter nascido dali. Claro, nenhum novo marco na ficção científica, nem um filme memorável. Mas algo gostoso de assistir. Podia, por exemplo, ter brincado mais com as linhas narrativas. Podia ter diminuído o CGI e focado em coisas que fazem diferença no filme. Podia ter um visual melhor.
São pequenas alterações que Nachmanoff, como diretor, tinha autoridade para fazer ao longo da filmagem. Sem dúvidas, com isso, Reeves, Alice Eve (Black Mirror) e Thomas Middleditch (Silicon Valley) teriam ficado bem mais confortáveis em seus papéis, entregando atuações mais satisfatórias -- em determinado momento, dá pena de ver Reeves em cena. Só as crianças coadjuvantes parecem minimamente animadas ali.
Cópias: De Volta à Vida é mais um escorregão na carreira de Reeves, que deixa cada vez mais claro que as contas estão se amontoando na entrada de sua casa e está precisando pegar papéis ruins. Não é possível, afinal, que seus agentes não alertem para a qualidade dos filmes. Será que é sadismo? Diversão? Nicolas Cage já sabemos que faz esses filmes bizarros por achar que são genuinamente bons, incompreendidos pelo crítica. Mas e Keanu Reeves? Por qual motivo o astro de Velocidade Máxima e Matrix se presta a papéis assim? Não sei. O melhor é impedir que esse filme volte à vida.
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