No filme clássico A Montanha dos Sete Abutres, o protagonista interpretado por Kirk Douglas chega numa cidadezinha no fim dos Estados Unidos. Lá, ele descobre que uma mina desabou sobre um grupo de trabalhadores, que permanece soterrado. É a deixa, então, para o jornalista-protagonista armar um verdadeiro circo da mídia, que explora todos os pobre coitados afetados.
Essa história, apesar de ficcional, mostra que tem um fundo de verdade em Condenados pela Mídia, série documental produzida por George Clooney e que chega ao catálogo exclusivo da Netflix. Dividido em seis episódios de uma hora cada, em média, o título mostra casos reais nos Estados Unidos em que a mídia, de alguma forma, foi determinante em crimes e julgamentos.
E como sempre, em séries com episódios de histórias diferentes, Condenados pela Mídia é uma produção errática. Alguns episódios, como Talk Show Murder, Blago! e Subway Vigilante, por exemplo, trazem histórias fortes, potentes e até com camadas sociais e políticas. Os outros três, enquanto isso, por mais que tenham boas histórias, acabam até se afastando do objetivo.
Além disso, fale ressaltar como a direção acaba sendo desencontrada na maioria dos episódios. Em 41 Shots -- disparado o mais fraco da temporada, ainda que a história seja relevante --, há uma opção questionável de câmera em posicioná-la torta com a maioria dos entrevistados. Isso não é visto nem depois, nem antes na série. Fica algo deslocado, sem dizer muita coisa a mais.
Também, no mesmo episódio, é difícil entender exatamente qual foi o papel da mídia naquilo. Ok: retrataram o jovem morto como alguém simples e não foram além. Mas isso foi determinante?
Indo além disso e tirando esse desencontro de identidades e objetivos, Condenados pela Mídia tem substância. É visualmente bem produzido, principalmente em locação e fotografia. A edição também chama a atenção, com algumas sacadas e cortes que dizem alguma coisa -- algo raríssimo de se encontrar hoje em dia, visto recentemente apenas em Ser Tão Velho Serrado.
E é interessante, sobretudo, como a boa escolha de alguns dos temas (principalmente de Talk Show Murder e Subway Vigilante) trazem paralelos com os dias de hoje. Por mais que sejam histórias de 20 ou até 30 anos atrás, ecoam em coisas que vivemos na atualidade. E esse é o maior mérito da série: nos fazer pensar e refletir sobre o que acontece aqui e agora.
É um pouco como A Montanha dos Sete Abutres. A história, e a maioria dos envolvidos, causa repulsa, nojo, tristeza. No entanto, quando os créditos sobrem, vem aquela pergunta: será que eu, quando ligo num canal de televisão ou clico em um site, não estou contribuindo para esse movimento? Será que não estou "esticando o pescoço"? É uma pergunta válida. E que faz com que a série seja relevante. Ainda mais em tempos sombrios e temerosos das fake news.
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