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Matheus Mans e Bárbara Zago

Crítica: 'Como Nossos Pais' emociona e faz público refletir


Imagine a seguinte situação: você está reunido com sua família em um almoço de domingo. Todo mundo junto, pronto para comer uma macarronada. Aí sua mãe, sem explicações, diz que você não é filho de seu pai. Pior: ela revelou isso pois está com um câncer em estado terminal e não quer levar o segredo pro túmulo. Difícil a situação, não é mesmo? Pois esta é a premissa de Como Nossos Pais, filme que estreia nesta quinta-feira, 31, sob a direção da talentosa Laís Bodanzky.

A trama, como já dito, acompanha os dias seguintes na vida de Rosa (Maria Ribeiro, dando um show de atuação), uma dona de casa e escritora que enfrenta problemas familiares com sua mãe (Clarice Abujamra) após as fatais revelações. Ao mesmo tempo, porém, ela sente que seu marido (Paulinho Vilhena) está te traindo durante as frequentes viagens que faz a trabalho. E mesmo com tudo isso, ela sente que precisa ser forte perante as suas duas pequenas filhas.

Resumo da ópera: é uma trama muito emocionante. Muito. A história, extremamente forte e intensa, é trabalhada em seus mínimos detalhes e o roteiro (escrito por Bodanzky e o ótimo Luiz Bolognesi, de Bingo) acerta ao não dar ares exagerados para a trama, permanecendo no drama humano. No final, o que se passa com Rosa é algo que pode acontecer com qualquer brasileiro a qualquer momento -- ainda que ela esteja numa situação extrema em sua vida.

Ainda assim, porém, o roteiro comete alguns erros como a pouca explicação sobre a origem do pai de um amiguinho das filhas de Rosa e, principalmente, o esquecimento de algumas personagens durante a narrativa -- como o irmão de Rosa, interpretado pelo ex-VJ da MTV, Cazé. O pai da protagonista, interpretado de maneira surpreendente pelo músico Jorge Mautner, tem ótimos momentos, mas fica nítido que falta um certo aprofundamento de sua personagem.

Assim, as duas grandes estrelas da produção são a direção e o elenco. Bodanzky, que já tinha mostrado todo o seu potencial em Bicho de Sete Cabeças e As Melhores Coisas do Mundo, volta a repetir a boa forma com uma direção discreta, mas de grande impacto, onde o ritmo do filme é mantido o tempo todo em consonância com uma estética interessante -- a câmera, por exemplo, é tratada como uma espécie de espiã, que filma o corredor da casa e o quintal é visto por meio de uma janela da cozinha.

Tudo isso deixa a história ainda mais verdadeira e humana. Humanização, aliás, está nas interpretações do filme. Maria Ribeiro cria uma personagem real, viável e palpável. Desde Regina Casé, em Que Horas Ela Volta?, não se via uma personagem feminina com tanta força e profundidade. O mesmo vale para Clarice Abujamra, que faz um papel de mãe fria e distante apenas com uma troca de olhares ou um gesto com as mãos. É lindo de se ver em cena.

A grande pena do filme -- coisa que não paro de falar desde que assisti o longa-metragem -- é o final. Cerca de dez minutos antes do fim, há uma cena lindíssima com Clarisse Abujamra. Na sala de cinema, algumas pessoas ameaçaram aplaudir, enquanto outras engoliam choro e soluço. É linda, linda, linda. Porém, a diretora, numa escolha duvidosa, decide estender o filme por mais uns minutos e a conclusão é vazia de qualquer sentimento. Tudo ficou depositado naquela cena de minutos antes.

Ainda assim, porém, o filme não perde seu brilho e mostra, juntamente com Bingo -- O Rei das Manhãs, que o Brasil faz cinema. Cinema de verdade, que pega o interior das pessoas e torce ele inteiro, transformando o ato de assistir um filme em uma experiência. Como Nossos Pais, apesar dos errinhos e do final prolongado, faz isso. E que sentimento ótimo e maravilhoso de sentir. Por isso, se puder, não deixe de ir no cinema apreciar essa pérola nacional. É preciso incentivar trabalhos assim.

ÓTIMO

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