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Bárbara Zago e Matheus Mans

Crítica: 'Colossal' é apenas uma história estranha e sem propósito


A atriz Anne Hathaway é uma daquelas estrelas que se encaixam bem em qualquer papel: teve bom desempenho na comédia Um Senhor Estagiário, na ficção científica Interestelar, no leve e divertido O Diabo Veste Prada e até mesmo em Batman: O Cavaleiro das Trevas, como a Mulher Gato. Por isso, não é surpresa que a atriz tenha sido a escolhida para viver protagonista de um estranhíssimo filme do espanhol Nacho Vigalondo, o recém-lançado Colossal.

A história do filme é bizarra, num primeiro momento: Gloria (Hathaway) é uma mulher que vê a sua vida indo por água abaixo. Está afundada no alcoolismo e acaba de ver seu relacionamento com Tim (Dan Stevens, de A Bela e a Fera) terminar de uma hora para a outra. Desamparada, a jovem parte para a cidade que passou a infância em busca de redenção. No entanto, no local, a moça entra em desespero ao perceber que está controlando um monstro na Coreia do Sul, que destrói toda a cidade. Pois é.

A partir daí, a trama vai se desdobrando com a vida de Gloria se complicando cada vez mais e o uso de metáforas com o monstro -- que podem ser as mais variadas possíveis, de acordo com a sua interpretação -- vão ficando mais evidentes, mesmo que você não entenda em um primeiro momento o que está acontecendo no longa. Dúvida sobre a trama, aliás, é o que mais existe no longa de Vigalondo, que já tinha apresentado trabalhos experimentais e ousados com o ótimo e empolgante Crimes Temporais e o mediano Extraterrestre.

Em Colossal, porém, a dúvida e o estranhismo chegam à níveis extremos. Gloria parece estar a todo momento bêbada, mas não é mostrado quando isso acontece, como ela entra em contato com a bebida. Ela simplesmente surge bêbada, sem explicação. Além disso, durante a trama, a personagem entra em contato com Oscar (Jason Sudeikis, num papel atípico de sua carreira de comediante), um amigo de infância que começa a ter traços de uma pessoa problemática e que não aceita ser contrariado.

A partir daí, quando a relação de Gloria e Oscar começa a balançar, o filme desaba. A curiosa e original ideia do monstro, que poderia ser bem aproveitada por meio de alguma reviravolta em algum momento da trama, acaba sendo infantilizada -- a ponto do diretor tentar espremer um humor que não existe. E a personagem entra numa espiral de confusão, com situações toscas, sem sentido. Enquanto isso, o espectador tenta caçar um motivo para todas a quelas coisas e tramas que se desenvolvem na tela, tirando qualquer essência ou significado que poderia ser desprendido da história.

E a história do filme, por fim, acaba se perdendo em um emaranhado de caminhos e gêneros. Impossível mensurar se o longa é um drama indie e com toques de fantasia, como é visto, por exemplo, em Sete Minutos Depois da Meia-Noite; se é uma história de monstros que buscam desenvolver o lado humano, como em Tubarão; ou se é, simplesmente, uma grande piada com filmes de monstros, como Godzilla.

Hathaway se esforça para mostrar que é mais do que uma atriz de blockbusters, e repetir os feitos recentes de Scarlett Johansson (Sob a Pele) e Charlize Theron (Lugares Escuros). E ela consegue, em partes. Sua atuação é correta de acordo com a personagem Gloria, mas não há emoção. O espectador não cria empatia com a atriz, mesmo ao ver ela passar por momentos tensos e de violência. Sudeikis, enquanto isso, surpreende, mas também não vai muito além, devido ao personagem estranho que interpreta.

O grande erro de atuação, porém, está no elenco de apoio. Dan Stevens, Tim Blake Nelson (de Lincoln e E aí, meu irmão, cadê você?) e Austin Stowell (de Whiplash e Ponte dos Espiões) são subutilizados e totalmente descartados na trama. Stevens é uma personagem extremamente superficial, rasa. Enquanto isso, Stowell e Blake Nelson não possuem função narrativa alguma, sendo que um deles até mesmo some sem motivo aparente.

Enfim. Colossal é um filme que tem uma boa premissa, mas que se perde em uma história sem propósito e muito estranha. Na tentativa de acertar em várias metáforas e grandes significados, toda a trama acaba se tornando vazia, rasa e preguiçosa. Resta, apenas, uma atuação razoável dos protagonistas e uma tentativa de reverter significado das histórias de monstros japoneses que tanto gostamos.

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