Marvin Bosch (Elyas M’Barek) é um ator de cinema que está cansado. Cansados dos filmes que faz, da falta de liberdade, da forma que cerceiam sua liberdade. Um dia, decide largar tudo para trás. Foge na movimentada Berlim. Onde se esconder? Acaba encontrando refúgio 3000, um pequeno teatro feminista independente LGBT+, dirigido pela instigante Frieda (Lucie Heinze) e está à beira da falência. Essa é a história de Coisas do Amor, estreia desta quinta-feira, 17.
Dirigido e roteirizado por Anika Decker (Aprendendo a Amar), o longa-metragem não poderia ser mais equivocado. Mistura de Um Lugar Chamado Notting Hill com uma compreensão genérica do que são os filmes de Almodóvar, Coisas do Amor tenta desesperadamente ser um filme singelo e bonitinho, mas tem a sutileza de um elefante entrando dentro de uma biblioteca. Tudo é jogado, nada é corretamente desenvolvimento. Sentimentos afloram, por exemplo, sem motivo.
Quando Marvin encontra Frieda, para ter uma ideia, bastam algumas trocas de palavras para que o protagonista diga que ela é a "pessoa mais legal do mundo" ou algo similar. Anika parece não saber construir esse sentimento na tela e, por isso, precisa deixar claro no roteiro. Mas nós, espectadores, não sentimos de forma alguma essa conexão. O mesmo vale para as "verdades" que os dois dizem ao longo do filme (sobre sexo, relacionamentos): incômodas e artificiais.
O pior de tudo, porém, está na forma que Coisas do Amor constrói esse teatro feminista e LGBT. São tantos estereótipos, a todo momento, que a coisa se torna quase uma paródia de si mesma. As pessoas que participam desse teatro são sempre exageradas e parecem querer mostrar, a todo o momento, como são independentes, livres. É a tentativa desesperada de Anika em criar uma contraposição com Marvin, esse homem amargurado, preso e sem qualquer liberdade.
Uma sequência de comediantes apresentando stand-ups no teatro também constrange: não há nada de engraçado aqui e algumas colocações mostradas são um tanto quanto ultrapassadas.
No final, fica difícil identificar que Coisas do Amor é uma comédia romântica -- mesmo considerando toda a aspereza dos alemães. Não é engraçado, não é romântico, sequer é divertido. É um filme que tenta desesperadamente ser algo que nunca é. E, com isso, acabamos em uma zona de constrangimento em que o longa-metragem não consegue chegar perto de ser algo interessante, ficando em uma zona de exagero que faz a história perder qualquer sentido.