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Crítica: 'Código Preto' transforma espionagem em terapia de casal

Foto do escritor: Matheus MansMatheus Mans

O cinema de espionagem continua se reinventando, mesmo em um mundo órfão de novos filmes de James Bond. Nos últimos anos, agentes secretos e conspirações internacionais dominam telonas e telinhas, seja seguindo a fórmula clássica do 007 ou subvertendo as expectativas do gênero. Agora, Steven Soderbergh entra na brincadeira com Código Preto, seu novo thriller que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 13.


O longa marca a terceira parceria entre o diretor e o roteirista David Koepp, após o intrigante Kimi e o ainda inédito Presença, previsto para estrear no Brasil em abril. Aqui, a trama gira em torno de George (Michael Fassbender) e Kathryn (Cate Blanchett), um casal de agentes do Serviço Secreto de Inteligência. O relacionamento dos dois entra em colapso quando um dispositivo de segurança ultrapassado cai em mãos erradas. Enquanto George investiga o vazamento para os russos, seu chefe (Pierce Brosnan) o mantém sob vigilância.


A grande dúvida que paira sobre a narrativa: e se a verdadeira ameaça estiver mais próxima do que ele imagina? Será que Kathryn está por trás do roubo?


O humor como fio condutor


Apesar da premissa de suspense, Soderbergh não está interessado em contar uma história de espionagem tradicional. Em ágeis 93 minutos, o cineasta brinca com os clichês do gênero e transforma seu thriller em algo inesperado. A escalação de Brosnan, um ex-007, em uma participação especial, já indica o tom irônico do projeto.



Michael Fassbender encarna George com a mesma meticulosidade fria que apresentou em O Assassino, de David Fincher. No entanto, Soderbergh se diverte ao revelar as fragilidades do personagem, mostrando como, no universo da espionagem, não há espaço para a desconexão emocional total.


O grande trunfo do filme, porém, é o humor. O roteiro de Koepp satiriza os arquétipos clássicos do gênero. A dinâmica entre George e Kathryn passa longe da ação explosiva de Sr. & Sra. Smith e se aproxima de uma sessão de terapia conjugal, onde segredos são mantidos sob o pretexto da profissão. Essa inversão de expectativas transforma Código Preto em um curioso e divertido estudo sobre confiança e intimidade.


Um final frustrante, mas um caminho interessante


Ainda que o filme tenha boas sacadas, o desfecho não acompanha a inventividade do restante da narrativa. Koepp parece ter uma excelente ideia inicial, mas pesa a mão na necessidade de explicar demais os acontecimentos, tornando o final didático e um tanto frustrante.


Mesmo assim, Código Preto reforça que a espionagem no cinema continua fértil para novas interpretações. Pode não ser um novo Sexo, Mentiras e Videotape ou Magic Mike, mas é uma experiência que arranca risadas e deixa claro que Soderbergh segue se divertindo atrás das câmeras. E se ele está se divertindo, por que não entrar na brincadeira também?

 

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