Cyntoia Brown foi uma garota americana, de 16 anos, condenada à prisão perpétua após matar um homem. Seus direitos como menor de idade foram ignorados. Dessa forma, a menina cumpriria sua pena, de no mínimo 51 anos, sem nunca mais frequentar a escola, sem estudar ou coisa do tipo. E pior: a morte aconteceu enquanto ela era prostituída por um namorado.
Agora, o documentário Clemência se debruça sobre a história dessa garota desde o seu julgamento, em 2004, até o seu pedido de clemência em 2020. Além de mostrar detalhes jurídicos e até psicológicos sobre a condenada, o filme também aponta para uma mudança da sociedade: será que hoje, 16 anos depois, uma garota prostituída seria julgada dessa maneira?
Dirigido por Daniel H. Birman, o documentário não tem medo de se posicionar nas entrelinhas. Ainda que nunca escancare seu desejo pela clemência à Cyntoia, o diretor traz elementos, e faz uma apurada seleção na tela, para que o espectador seja induzido a também pensar por esse caminho. Nada de errado nisso, já que é um documentário e não algum produto jornalístico.
A história é forte, os desdobramentos chocam. E é impossível fica impassível diante de tantas coisas que se desenrolam na tela. O documentário obrigado o espectador a tomar posição.
Vale destacar, também, o importante trabalho de arquivo. Por mais que seja um filme com produção recente, há entrevistas desde 2004, perpassando todos os principais momentos da vida de Cyntoia dentro da prisão. É um trabalho primoroso, até mesmo raro de ser visto, que contempla mais de uma década de imagens, conversas, entrevistas e até mesmo encontros.
No entanto, é uma pena, Birman se deteve demais num formato de filme para TV. Em momento algum o cineasta extrapola isso com bons planos, uma narrativa mais concisa, algo que ganhe o espectador por sua embalagem. É um filme, assim, simplório, ainda que o conteúdo seja gigante. Uma pena. Birman poderia ter ido além com um conteúdo tão rico, tão inédito, tão forte.
Do jeito que ficou, é apenas um bom filme para a Netflix. Nada de errado com isso, é claro. Mas fica aquele gosto de que essa história, tão boa, poderia atingir mais pessoa com mais apuro.
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