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Giulia Costa

Crítica: 'Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos' coloca vida indígena em evidência


Henrique Ihjãc Krahô é um jovem índio que vive numa aldeia em Pedra Branca, lar da comunidade Krahô, no interior de Tocantins. Após uma noite conversando com o espírito do seu pai, Ihjãc decide organizar um ritual de fim de luto tradicional do seu povo para que seu ente-querido possa finalmente descansar em paz. Durante o processo, o protagonista descobre que está se tornando pajé e acaba entrando em conflito consigo mesmo, o que o leva a viajar para uma cidade próxima na tentativa de evitar a transformação a qual estava destinado.

Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos chegará aos cinemas brasileiros no dia 18 de abril deste ano, mas já foi transmitido em maio de 2018 no 71º Festival Internacional de Cannes, onde também recebeu o Prêmio Especial do Júri da mostra Un Certain Regard. O elenco, João Salaviza e Renée Nader Messora - cineastas responsáveis pela direção do filme - realizaram um protesto no tapete vermelho do evento para denunciar o genocídio indígena no Brasil e a decisão do governo de Michel Temer de priorizar o agronegócio em detrimento da demarcação das terras indígenas.

Os protagonistas Ihjãc e sua esposa Raene Kôtô Krahô interpretam a si mesmos e todos os índios presentes no longa-metragem falam sua própria língua, adotando o português apenas quando entram em contato com brancos. Suas atividades diárias e a forma como se comportam socialmente e entre familiares foram aspectos destacados durante todo o filme, com o auxílio de belos enquadramentos que oscilavam entre extremos: o amplo - evidenciando as pessoas em conjunto com a paisagem - e fechado, com foco em detalhes dos personagens, como suas expressões e suas mãos hábeis realizando algum trabalho. Todos os detalhes do longa, como a excelente fotografia, por exemplo, transmitem a naturalidade dos cenários, sem grandes efeitos ou trilha sonora para guiar o público em suas emoções.

Uma questão marcante retratada no filme é que mesmo tempo em que os índios mantém seus costumes e hábitos tradicionais vivos - como pinturas corporais, canções, crenças, rituais, alimentação, linguagem e moradia - eles também fazem “coisas de branco”: jogam bola, pintam as unhas, usam o telefone, vestem roupas e escutam música. Ao naturalizar esse lado da comunidade Krahô, o longa ajuda a desmistificar a concepções preconceituosas de que índio para ser legítimo não pode adquirir objetos ou incluir no seu dia a dia atividades que não são tradicionalmente da sua cultura.

Apesar do protesto realizado no festival, o cunho ativista do longa-metragem é sutil. O propósito é retratar o cotidiano e as tradições da comunidade Krahô com autenticidade, além de desconstruir ideias preconcebidas daqueles que nunca conviveram com indígenas. Se esta era realmente a missão dos cineastas, então ela foi cumprida com êxito. Entretanto, aqueles que procuram narrativas em que seja possível um envolvimento profundo entre o público, a história e os personagens irão se decepcionar. O roteiro é simples, sendo possível notar algum amadurecimento de Ihjãc ao longo do filme, mas sem grandes desenvolvimentos e alguns diálogos pouco genuínos. Fica claro que o grande protagonista da história é a vida indígena em si.

 

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