Christabel é um longo poema narrativo de Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês que supostamente escreveu esses versos na virada do século XVIII para o XIX. É um tradicional texto britânico, pura literatura dos lados de lá, que conta a história de uma jovem que encontra uma mulher desacordada na floresta. E quem diria: essa história agora existe no Brasil rural.
Sob a batuta do cineasta Alex Levy-Heller (Jovens Polacas), Christabel coloca a história dessa jovem (Milla Fernandez) que dá nome ao filme no caminho de Geraldine (Lorena Castanheira). A primeira encontra a segunda judiada no meio do mato da zona rural de Goiás em que moram. Ela conta que foi atacada por homens misteriosos. Assim, os caminhos das duas se cruzam.
Ao contrário do poema de Coleridge, Levy-Heller coloca menos magia e mais pé no chão. Não há grandes efeitos mágicos na presença de Geraldine na vida de Christabel, mas sim uma catarse quase que instantânea, típica de um romance de Clarice Lispector. Afinal, a protagonista percebe que a vida tem mais do que os limites de sua fazenda e do que a rigidez do pai (Julio Adrião).
Os sentimentos brotam na tela, se misturam, se intensificam. A fotografia elegante de Vinicius Berger (de Eleições) ajuda a elevar a qualidade poética da trama, colocando essas sensações e emoções também na estética. O cenário do Cerrado fica ainda mais intenso, mais belo e, de alguma forma, modula as emoções. Lembra Me Chame Pelo Seu Nome e seu ar bucólico.
No entanto, Levy-Heller exagera na rigidez narrativa. Não cai nem na metáfora poderosa de um Unicórnio, por exemplo, nem em um desenvolvimento de personagem que encanta e faz a narrativa avançar. Uma virada na trama, faltando 30 minutos pra conclusão da história, ajuda a alavancar um pouco o ritmo, mas não é o bastante. O filme continua lento demais. Parado.
Christabel, espécie de poema filmado, é bonito. Sem dúvidas, o trabalho de transportar o poema inglês para o Cerrado é inventivo, original, provocativo. O elenco está bem, com Milla Fernandez com uma inocência sensual no olhar marcante. Mas poderia ser melhor, sem dúvidas. Ter uma edição mais ágil, mais esperta. Ritmo menos cansativo. Christabel, uma pena, podia ser melhor.
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