Quais os limites entre o drama e a comédia? Um é melhor que o outro? São essas indagações, além de algumas outras, que norteiam o longa-metragem Chorar de Rir, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 28. Dirigido por Toniko Melo (VIPs), o filme acompanha a história de Nilo Perequê (Leandro Hassum), um comediante que, quando começa a fazer mais sucesso e a comandar um programa na televisão, resolve largar tudo para interpretar Hamlet no teatro. Nesse momento, porém, ele descobre que está amaldiçoado e perde a habilidade de fazer chorar. Pra resolver isso, e enfrentar o rival Jotapê (Rafael Portugal), ele terá que fazer alguém rir pela primeira vez na vida.
O filme está longe de ser baseado apenas no humor físico que Hassum ficou conhecido nos primeiros anos de sua carreira, em produções como Os Caras de Pau, O Candidato Honesto e Até que a Sorte nos Separe. Ainda que tenha um momento ou outro de exagero, nada toma conta total da produção. É uma comédia que pode agradar vários tipos de público. Só não dá para ir esperando uma produção que cause gargalhadas de tirar o ar. Chorar de Rir está longe de fazer jus literalmente ao seu nome. A piada está mais nas atitudes e na trama como um todo, passando longe de sacadas geniais.
E nesse ponto, há aspectos positivos e negativos. A discussão que o longa desperta, sobre os limites do drama e da comédia, é mais antiga do que andar pra frente. Mas, ainda assim, há espaço para reflexão -- principalmente lidando com um ator como Leandro Hassum, tão alvo de preconceitos pela crítica especializada. E o filme chega em um momento interessante, em que o protagonista começa a testar novos desafios em comédias regionais (Dona Flor e seus Dois Maridos), filmes infantis (Malasartes), dramédias (Não se Aceitam Devoluções) e até divertidas cinebiografias (Simonal).
O elenco, aliás, foi bem escolhido. Além de Hassum fazer sentido no papel, Rafael Portugal (Porta dos Fundos), Jandira Martini (Olga), Otávio Müller (Benzinho) e Perfeito Fortuna (Nise: O Coração da Loucura) também estão bem. Caito Mainier (Choque de Cultura) e Carol Portes (Tá no Ar) fazem boas participações especiais, mas rápidas.
A grande falha de Chorar de Rir está na conclusão. Ao amarrar as pontas, o diretor parece não saber juntar a comédia e o drama, deixando a coisa artificial demais -- como em Não se Aceitam Devoluções. Uma cena envolvendo um parto e médicos chorando é uma das coisas mais constrangedoras dos últimos tempos. Toda a leveza da história acaba se perdendo e a emoção, represada durante o filme, se perde. Fica uma sensação estranha e o filme, que aposta numa dramédia, não encontra seu caminho. Uma subtrama envolvendo Sidney Magal também não faz sentido. Talvez fosse melhor algo inusitado como o bom drama Entre Abelhas, com Fábio Porchat. Faltou ousadia.
Algumas passagens também parecem desperdiçadas. Em vários momentos, o humor é forçado e preguiçoso, perdendo algumas boas chances de fazer piadas de situações.
Enfim. Chorar de Rir é um filme interessante, que faz sentido na carreira de Hassum, mas que não chama a atenção por nenhum de seus aspectos -- a comédia é branda demais, o drama é fraco e a história vai enfraquecendo no decorrer da produção. Vale mais pela mensagem e pelo bom elenco, afinado com a proposta de seus personagens. Difícil repetir o sucesso estrondoso de outros filmes de comédia brasileiros. Está mais para um grito de liberdade de Hassum do que qualquer outra coisa. E será que isso vai interessar o público?
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