Morto em 2013 com precoces 42 anos, Chorão se tornou uma lenda, um mito, uma referência na música brasileira. Com um estilo próprio, que incorpora maneirismos da cultura do skate americana, o cantor e compositor fez história com a banda Charlie Brown Jr. e hits que ficaram vivos na cultura pop, como Dias de Luta, Dias de Glória, Só os Loucos Sabem e Proibida pra Mim.
Agora, a curta (e intensa) trajetória de Chorão é contada no filme Marginal Alado, documentário que enfim vê a luz do dia após atrasos na estreia. Dirigido pelo estreante em longas Felipe Novaes, o filme não fica longe das já combalidas e batidas cinebiografias documentais sobre músicos e cantores da MPB -- como Simonal, Raul Seixas, Mamonas Assassinas e tantos outros.
Chorão: Marginal Alado usa a tradicional fórmula de encavalar entrevistas e imagens de arquivo ao longo de toda sua duração, sem trazer nada de muito original. A abordagem narrativa também é tradicional, contando desde o começo simples de Chorão em Santos, passando pelo sucesso absoluto em todo o Brasil e até chegar ao ápice de seu vício, em 2013, e sua morte.
Fãs do cantor e compositor, que se tornou quase como um messias de uma religião baseada em skate, frases fortes e uma boa batida, vão sem dúvidas se emocionar. Ao ouvir trechos de seus hits, é fácil lembrar de sua história com a trajetória de Chorão e, em consequência, de como sua vida foi embalada pelas músicas do paulista. É o ápice de uma longa espera desse público fiel.
Por outro lado, aqueles que não são adeptos da religião do Chorão vão apenas passar ao longo do filme. Ou seja: vão embarcar na história, cantarolar algumas músicas e só. Afinal, Novaes não traz desafios ao espectador ou momentos que tirem o público do conforto. É um filme como esperado, para apenas viajar nas memórias, nas letras e na força punk rock que tinha Chorão.
Sobre este último ponto, pode-se dizer que os melhores momentos são quando Novaes traz à tona as contradições de Chorão, suas diferentes personalidades. É particularmente tocante quando o cantor fala com uma fã na janela de uma van, incentivando-a a baixar as músicas do Charlie Brown Jr. O importante são as letras, a melodia, e não o CD físico, explica Chorão à fã.
Em outros momentos, enquanto isso, surgem histórias do Chorão sem tolerância, irritante e outras coisas do tipo. Essas contradições dão força para a história, trazendo camadas na personalidade do músico. Afinal, mais do que saber a trajetória biográfica de Chorão, o mais legal é entender essa personalidade oculta por trás do mito, da figura pública, dessa lenda.
Chorão: Marginal Alado é um presente para fãs, órfãos do Chorão e de suas letras há oito anos. Por outro lado, é um filme que poderia ter seguido a inventividade do música em sua estrutura narrativa e sacadas visuais -- como ele próprio exibiu como roteirista no estranhíssimo O Magnata. Chorão teria aprovado o filme? Não sei. Mas, ainda assim, dá pra matar a saudade.
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