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Bárbara Zago

Crítica: 'Chacrinha: O Velho Guerreiro' traz humor e doses de nostalgia


"Abelardo Barbosa está com tudo e não está prosa" é uma frase difícil de ser lida sem, automaticamente, colocar o ritmo da clássica vinheta de abertura do Programa do Chacrinha. O apresentador, que fez sucesso entre as décadas de 1950 e 1980, ganha a sua cinebiografia aos mesmos moldes de Bingo: O Rei das Manhãs. Totalmente nostálgico, e fincado na alma da década de 1980, Chacrinha: O Velho Guerreiro relembra a trajetória do locutor desde sua persistente busca por emprego na rádio até o ápice de audiência na televisão. Em suma, uma história de altos e baixos, emoções e devaneios.

Dirigido por Andrucha Waddington, a história de Abelardo com um humor típico da época e que dificilmente seria aceito hoje em dia -- já imaginou alguém começar a jogar bacalhau em cima da audiência? "O Chacrinha era uma figura, o maior DJ que o mundo já teve. Qualquer tipo de música cabia no programa dele. Era um ícone pop", disse o diretor durante coletiva de imprensa em São Paulo. "Hoje eu não sei se o politicamente correto permitiria que o Chacrinha fosse o Chacrinha como ele era. A irreverência dele era algo forte que inventou a forma de fazer rádio e, também, a de fazer televisão."

O longa-metragem, porém, vai além do Chacrinha comunicador e traz histórias antes da fama, quando é interpretado por Eduardo Sterblitch (Os Penetras). Nesse momento, o público entra em contato com o lado mais humano de Abelardo, incluindo suas frustrações e o início do romance com Florinda (Amanda Grimaldi). Sterblitch não chegou a viver a época do Chacrinha, porém percebe sua influência na rádio e televisão até hoje. "Você conhece o personagem dele, não quem ele era. Por mais que você não conheça o Chacrinha, não faz diferença. Ele é um personagem apresentável para uma pessoa pela primeira vez, que vai entender e vai achar o máximo a história", disse o ator durante coletiva.

A segunda parte do filme, no entanto, foca no Chacrinha interpretado por Stepan Nercessian. Ele conseguiu conferir ao personagem uma naturalidade tão grande que é facilmente convencido como o próprio Chacrinha, não deixando a desejar em momento algum. Não se pode negar que o filme tenha defeitos bastante visíveis, como uma estrutura totalmente quadrada e pouca ousadia narrativa, deixando tudo num mesmo tom burocrático. No entanto, não é suficiente para tirar força do longa, que é totalmente capaz de trazer um sentimento de nostalgia e arrancar gargalhadas do espectador.

Como biografia, é importante que Chacrinha não seja totalmente idealizado. Quanto à isso, Waddington fez questão de retratar todos os problemas familiares que Abelardo tinha, desde adultérios até a sua ausência na vida dos filhos e da esposa. Seu temperamento explosivo também não é deixado de lado, sendo muito bem desenvolvido em sua relação com Boni (Thelmo Fernandes). Chacrinha era um homem criativo, mas que muitas vezes extrapolava limites. "A ideia sempre foi tentar não fazer um filme chapa branca, mostrar o lado louco que ele tinha, bipolar que ele tinha, nos bastidores. O programa existe, mas ele é narrado a partir do backstage, através do bastidor. Essa foi a escolha narrativa de como a gente vai contar essa história", contou o diretor.

Ao ser questionado sobre o lançamento do filme, dada conjuntura política atual, todo o elenco deixou claro que o intuito do filme é ser um respiro à esse momento. "Talvez traga algum tipo de alegria para o público, ele tem essa característica. A data [de lançamento] é só duas semanas após a eleição. Eu acho que lançar qualquer coisa agora, nesse período, é quase um suicídio. Mas eu acredito que o filme, depois de passar pelas eleições, pode ser um alento para curar a ressaca que nós todos provavelmente sentiremos", desabafou o diretor.

Com marchinhas de carnaval, samba, MPB, a trilha sonora de Chacrinha: O Velho Guerreiro é incrível -- o que é totalmente justo pensando na imensidão de diferentes artistas que tiveram a oportunidade de se apresentar em seu programa. Isso aliado ao figurino da época, o que inclui as inúmeras vestimentas exóticas de Chacrinha, são o que configuram o sentimento nostálgico, que foi o principal objetivo do filme desde o começo. O filme tropeça em alguns pontos, não se aprofunda o suficiente, porém não deixa a desejar. Afinal, como já diria o próprio, "eu vim para confundir, não para explicar".

 

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