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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Chá com as Damas' é ideal para amantes das artes britânicas


Judi Dench (007: Operação Skyfall), Maggie Smith (Harry Potter e a Pedra Filosofal), Joan Plowright (Chá com Mussolini) e Eileen Atkins (The Crown) reunidas em algum lugar no interior da Inglaterra para jogar conversa fora, se lembrar do passado, rir e tomar chá. Esse é o fio narrativo do delicioso documentário Chá com as Damas, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 13. Pouco didático, o filme é uma peça rara na vida dessas quatro grandiosas atrizes, que deixam a câmera entrar na intimidade de cada uma. No entanto, infelizmente, não é um longa para todos públicos.

Afinal, o diretor Roger Michell (Persuasão) pouco interfere na dinâmica das quatro amigas, que já se encontram ocasionalmente para esses fins há algum tempo. É difícil que alguém, sem conhecer o trabalho de pelo menos duas delas a fundo, se conecte com o que está sendo conversado. O cineasta às vezes joga algumas temáticas no centro das histórias, como morte, casamento e mensagens para o "eu" do passado, só que tudo ainda é muito particular. É como se o espectador, de alguma forma, fosse um convidado a mais naquela reunião e pegasse o bonde andando. Alguns vão entender bem o que está sendo conversado, outros não vão conseguir pegar o fio da meada.

Mas passado isso, Chá com as Damas é um filme delicioso. Simples, sem muitos floreios, o documentário foca na força e na personalidade das quatro sem ensaio ou roteiro. Smith, talvez a mais conhecida dali por seu papel de Professora McGonagall, é expert em soltar frases provocativas e ácidas -- principalmente para Dench, que sempre traz alguma observação inteligente ou relembra algum momento do passado com uma precisão absurda. Joan Plowright, enquanto isso, consegue se divertir com a avançada debilidade de sua visão e traz bons momentos. Só Atkins, infelizmente, que fica um pouco de lado na edição. Mas tem momentos espirituosos e inteligentes.

Assim, é interessante ver a relação dessas quatro damas, condecoradas pela coroa britânica, de maneira tão leve e divertida. Comentários de Maggie Smith sobre seu papel em Downtown Abbey; a provocação de Plowright para Judi Dench, dizendo que ela pega todas as pontas no cinema americano; Atkins relembrando as dificuldades de aceitar alguns papéis e, até mesmo, o título de dama. É tudo muito fluído, natural, real. Algo que é raro no cinema, já que poucas estrelas possuem a disponibilidade de deixar a câmera entrar na intimidade dessa maneira. Em alguns momentos, chega a ser desconcertante.

Há algumas inserções de material de acervo na edição, que pontua grandes momentos do quarteto no cinema e, principalmente, no teatro britânico que ajudam a dar mais ritmo para o filme. Ao invés de ficar focado apenas na casa de campo onde o filme foi gravado, há escapes para memórias e imagens do passado. É interessante ver as quatro em cena, criando uma comparação quase instantânea. Destaque, também, para as passagens que falam sobre morte e velhice. Que delicadeza, que beleza de ver e ouvir. É desconcertante a forma que elas lidam com isso, deixando-as próximas do espectador.

Chá com as Damas é um filme para poucos. Se não há familiaridade com o trabalho de parte do quarteto ou se não há interesse em histórias do cinema e do teatro britânico, é de pouca valia. Afinal, são assuntos pessoais, memórias que fluem na frente da câmera, e que não possuem narrativa para ajudar a explicar. Mas quem se aventurar a passar uma tarde com essas quatro senhoras inglesas, com certeza sairá da projeção com boas risadas, algumas boas histórias na cabeça e um interesse genuíno em conhecer a obra de cada uma delas mais a fundo. Afinal, parece que acabou de tomar chá com elas. Saúde!

 

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