A história de Carlos Ghosn, sírio-brasileiro que se tornou CEO simultaneamente da Renault e da Nissan, é uma das coisas mais inacreditáveis da indústria automotiva. Afinal, além de ter acumulado poder à frente das empresas, começou a esbanjar: tinha salário altíssimo, abusava financeiramente, confundia as contas. Até que o governo japonês, de olho na Nissan, prendeu Ghosn até que o executivo, em um plano bizarro, fugiu do Japão em uma caixa de instrumentos.
Essa é a história contada em CEO em Fuga, longa-metragem que chegou ao catálogo da Netflix nesta quarta-feira, 26. Dirigido por Lucy Blakstad (Modern Times), o documentário faz exatamente o que falamos no título desta crítica: relata. Ao longo de pouco mais de 90 minutos, o roteiro mostra como foi a ascensão, perpetuação de poder e queda do executivo, que tinha tudo para estar em alta até mesmo hoje em dia. Quase uma tragédia grega com toques cômicos.
Uma pena, porém, que Blakstad não saiba usar essa essência da narrativa à seu favor. CEO em Fuga é um filme convencional, um documentário como tantos outros que já vimos na Netflix: são entrevistas e mais entrevistas, com uma boa quantidade de arquivo, para dar detalhes de uma história que ficou conhecida na mídia. Quem acompanhou profundamente os acontecimentos em 2018, aliás, deve ficar entediado aqui: não há absolutamente nada em cena além de relatos.
Falta um tempero a mais. O que? Difícil dizer o que poderia tornar a história mais atrativa para quem já conhece. Mas talvez, pelo menos, ter apostado em uma narrativa que não seguisse o mesmo caminho de sempre? Tivesse conexões com as tragédias gregas? Ou, então, tivessem apostado mais em entrevistas com Ghosn -- há trechos de arquivo aqui, mas nada novo ou que seja realmente impactante. No resultado final, assim, parece apenas um apanhadão geral.
É ruim? Não. Dá pra passar o tempo e é interessante perceber como Ghosn foi mudando em termos de visual, contato com as pessoas e presença. CEO em Fuga, porém, não vai muito além disso e mostra como a Netflix anda tropeçando até mesmo em áreas que antes lhe eram caras, como as histórias de crimes reais, produzindo cada vez mais conteúdos banais e sem vida.
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