Que filme mais inesperado e singelo é Casa, novo filme da diretora Letícia Simões (de O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva). Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 12, o documentário acompanha os meandros e as particularidades da vida da própria cineasta, com especial atenção ao relacionamento de Simões com a mãe, que sofre de transtorno bipolar, e com a avó.
Cru e natural, Casa primeiramente chama a atenção por seu aspecto bruto e íntimo. Letícia não tem medo de fazer um ensaio quase que autobiográfico, trazendo olhares e intimidades ao espectador que apenas integrantes daquela família poderiam ter. São brigas e discussões, mas também olhares, carinhos quase que envergonhados. Não teria como ser algo mais profundo.
Além disso, Letícia investiga as relações familiares não apenas com retratos documentados pela própria cineasta, como também mostra agentes externos. Há a leitura de cartas trocadas entre mãe e filha, além de intervenções artísticas em fotos que ajudam a compreender melhor como aquela família em específico se comporta. Aos poucos, todo aquela panorama é bem construído.
Interessante notar que a cineasta também não se furta em colocar sua própria figura e imagem na tela, sem filtros. Uma intensa briga com a mãe, na véspera de Natal, é colocada na tela sem cortes e acaba criando o momento mais intenso, e angustiante, do longa-metragem. Em outros momentos, traz questionamentos pertinentes à matriarca e também sofre na frente da câmera.
Um ponto de observação também está no aspecto mais amplo de Casa. Por mais que seja um filme sobre a relação de Letícia com a mãe e a vó, o longa-metragem fala muito mais do que isso. Também é um documentário que ajuda a examinar, quase que em um filme-ensaio, o papel da mulher na estrutura familiar e, acima de tudo, as novas configurações da família baiana.
Enfim, Casa é uma boa e agradável surpresa. Traz momentos realmente potentes na tela e, apesar de um ou outro momento mais vazio em suas intenções, é uma das boas surpresas desse 2020 tão atípico para os cinemas. E depois desse documentário e de O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva, é bom ficar de olho em Letícia Simões. Já é uma grande cineasta.
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